Produção internacional do Globoplay, que mistura atores brasileiros e estrangeiros, a série Rio Connection é baseada em eventos reais, como informa o aviso logo no começo do primeiro episódio. “Mas certos personagens e acontecimentos foram ficcionalizados”, completa o recado. No centro da trama estão três criminosos que realmente existiram e tiveram suas respectivas trajetórias adaptadas na produção do streaming da Globo.
Rio Connection toma um cuidado extra sobre essa questão de encenar fatos ocorridos durante os anos 1970. Antes dos créditos do capítulo inicial, outra mensagem aparece, indo além da tradicional “qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência”. O aviso reforça que “nome de um personagem ou menção de uma pessoa, morta ou viva, é somente para fins dramáticos, sem qualquer intenção de refletir o que realmente aconteceu.”
Na trama, autoridades italianas e americanas se aproximam de três figuras proeminentes do crime organizado: um capo da máfia siciliana Cosa Nostra, um gângster da Córsega (França) e um dos maiores negociantes de pinturas falsificadas de todos os tempos.
Em fuga, os três homens se encontram no Brasil, com novas identidades e o objetivo de tropicalizar a máfia, estabelecendo um ponto estratégico do tráfico de heroína para os Estados Unidos.
Os procurados que formam esse trio na mira da polícia são: o mafioso italiano Tommaso Buscetta (interpretado por Valerio Morigi); o gângster francês Lucien Sarti (Aksel Ustun); e Fernand Legros (Raphaël Kahn), falsificador e facilitador. Todos eles são pessoas reais.
“A ideia para a série veio quando eu fazia pesquisas para outro projeto inspirado em fatos ocorridos no Rio de Janeiro no início dos anos 1970”, contou Mauro Lima, criador e diretor da série, em entrevista ao site Gshow. “Li um artigo de 1971 e um universo se abriu na minha frente. O interesse foi tanto que contratei uma pesquisadora para obter mais informações sobre esses três personagens centrais da história.”
Os criminosos reais de Rio Connection
Tommaso Buscetta O famosão do trio. Tommaso Buscetta (1928-2000) é conhecido até hoje como um dos nomes mais importantes de toda a Cosa Nostra. Sua primeira passagem no Brasil foi no final dos anos 1940, quando abriu empresas que não deram muito certo. O retorno ao território tupiniquim foi na década de 1970, agora sim para tocar o negócio de tráfico de heroína e cocaína.
Em 1972, ele foi preso e mandado para a Itália, onde foi julgado e condenado a dez anos de prisão. Acabou solto, antes do cumprimento total de pena, e voltou a se instalar no Brasil, aí já em 1981.
Para tentar fugir da mira da polícia e Justiça, fez o possível para se parecer com outra pessoa, desde mudar a voz até fazer cirurgias plásticas. A tática não funcionou, e foi capturado novamente.
Já com idade avançada, Buscetta entregou os pontos: passou a ser informante, revelando detalhes e segredos da Cosa Nostra para a polícia. Tais revelações ajudaram a desmantelar a máfia siciliana. Ele morreu de câncer, aos 71 anos, nos Estados Unidos.
Lucien Sarti Traficante de drogas, o francês Lucien Sarti (1937-1972) tem em sua ficha criminal um suposto envolvimento com o assassinato de John F. Kennedy, presidente dos EUA morto em 1963.
Sarti morreu no México, em 1972, durante uma operação contra o tráfico de drogas na qual foi alvo de tiros.
Ele chegou até ter conexão com assalto a banco na Argentina. No Brasil, ele teve uma namorada chamada de Helena Ferreira; na série Rio Connection, a namorada de Sarti tem o nome de Ana Barbosa, vivida por Marina Ruy Barbosa. Um detetive no Rio de Janeiro chegou a ser suspenso da polícia após a descoberta de que aceitou propina para soltar Sarti e Helena da prisão, isso em 1972.
Fernand Legros Procurado em todo o mundo, Fernand Legros (1931-1983) dominava o mercado de arte, seja na Europa ou nos Estados Unidos, vendendo todo tipo de tela falsa dos maiores nomes da pintura, como Picasso, Renoir, Matisse, Dufy e Modigliani. Ele tinha parceria com Elmyr de Hory (1905-1976), um dos maiores falsários de todos os tempos. Em Rio Connection, os quadros fakes ficam a cargo de Lilly, interpretada por Maria Casadevall.
Ele casou com uma mulher dos EUA, porém apenas para ganhar cidadania no país norte-americano. Legros era gay e não escondia isso, a ponto de supostamente manter em Paris um “harém” habitado por jovens esbeltos e belos.
Legros enganou vários colecionadores notórios, europeus ou americanos, durante sua atuação nas décadas de 1960 e 1970. Tudo caiu por terra assim que uma fraude após a outra foi descoberta. No entanto, apesar de ser alvo de um longo julgamento em Paris, foi condenado apenas a quatro anos atrás das grades, sendo logo solto. Ele morreu de câncer na garganta, na França.
João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br
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