Para quem acredita que a vida é feita de ciclos… Certo dia, o streaming rompeu barreiras ao ser diferente da TV aberta e paga básica, exibindo conteúdo sem propaganda. Agora, de Netflix a Max, tudo que é plataforma está inserindo comerciais no meio de séries, filmes, documentários e tudo mais, tal qual a “ultrapassada” TV convencional. E isso deixa os criadores de conteúdo furiosos, por razões compreensíveis.
Fato é que esse é o mundo em que vivemos, não tem como voltar atrás. Streaming pago com anúncios se tornou a base de quase todos os concorrentes no mercado, sendo o pacote de entrada. E esse caminho não tem escape porque o maior de todos os exemplos, a Netflix, sorri igual ao Tio Patinhas ao ver os resultados de sua investida no meio da publicidade.
A gigante do streaming anunciou recentemente que tem 23 milhões de assinantes ativos em todo o mundo do pacote com anúncios, o mais barato (R$ 18,90/mês, no Brasil). Desse total, 85% usam a plataforma durante mais de duas horas por dia. Traduzindo: cada espectador dentro desse contexto vê oito propagandas (em média).
De olho nisso, o Prime Video já lançou seu pacote com anúncios nos Estados Unidos e países da Europa; logo mais a novidade aterrissa em território tupiniquim. O detalhe é que o atual cliente do streaming do Prime Video vai precisar pagar a mais para não ver comerciais. O plano com propagandas será o básico e todo assinante vai estar nele.
No próximo dia 27, o streaming da Warner Bros. Discovery muda de nome, cor, conteúdo e modelo de negócios. A HBO Max vai virar só Max, vestindo o azul e abandonando o roxo. Seguindo o modelo das rivais, a plataforma repaginada terá como pacote de entrada o Plano Básico com Anúncios, que custará bem caro: R$ 29,90/mês.
Como isso afeta os criadores de conteúdo?
Quem faz séries para a TV aberta americana, por exemplo, sabe que vai ter comerciais interrompendo o curso da trama de um episódio. A desvantagem é aproveitada para o bem, pois são criados miniganchos ao longo do capítulo visando criar pequenos suspenses bem antes da propaganda entrar no ar, tática para manter o telespectador sintonizado esperando o retorno da narrativa. São cerca de 42 minutos de cena em 60 minutos de faixa ocupada no horário nobre, em se tratando de dramas.
Nos streamings, como nunca houve comerciais, os episódios de dramas beiram uma hora só de cena. E não existe essa questão de miniganchos, pensa-se em uma história linear e ininterrupta. Com os anúncios entrando nas plataformas, alguém vendendo um carro ou comida pode brotar do nada bem no meio de uma reviravolta importante.
“Lutamos muito para nos livrar dos comerciais”, disse Alan Poul, produtor-executivo e diretor de Tokyo Vice (Max-HBO Max), em entrevista ao site The Hollywood Reporter. “Foi um dos maiores passos para aproximar o mundo da TV com o do cinema, conseguindo assim chamar a atenção de artistas de alto nível. Foi um ganho muito importante, mas agora está se revertendo.”
Showrunner da terceira temporada de Star Trek: Picard, Terry Matalas fez essa leva de episódios para o Paramount+ pensando nos cortes comerciais abruptos. “Eu só espero que os showrunners tenham uma palavra a dizer sobre onde os anúncios vão ser exibidos, para que não entrem simplesmente no meio”, comentou.
Quem faz e fez séries para os streamings não pensou nos comerciais, algo que terá de ser diferente daqui para frente. Veja o exemplo de Expatriadas, lançamento recente do Prime Video. Criadora e diretora da minissérie, Lulu Wang não escondeu a insatisfação da não ter sido avisada sobre a introdução de anúncios no streaming da Amazon. O drama estreou na plataforma justamente durante a ativação desse novo plano.
“Fiquei bastante zangada por causa disso”, disparou Wang. “Se eu soubesse [de antemão], teria estruturado a narrativa de uma maneira diferente, porque não é uma série que tem ganchos, suspense ou aqueles intervalos para os comerciais, feitos para que as pessoas voltem.”
David E. Kelley, um dos maiores produtores e criadores de séries da atualidade, tomou um caminho culinário pitoresco ao falar sobre o assunto, pegando como exemplo o drama Nove Desconhecidos (Prime Video): “Muitas vezes, isso [interrupção de comerciais] derruba uma série. Nove Desconhecidos ficou horrível com anúncios. Fizemos uma série para ser de uma hora, mas foi servida como uma torta, só que era pudim. Não se pode cortar pudim em fatias, porém exatamente isso que foi feito”.
João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br
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