A rede CBS, líder de audiência na TV americana, foi processada de novo por, supostamente, discriminar um homem branco e hétero para cumprir cotas de inclusão. Quem aponta o dedo agora é Jeff Vaughn, premiado âncora de telejornal. O time que lhe representa no tribunal é o mesmo que defende Brian Beneker, ex-roteirista da série Seal Team que processa a emissora do grupo Paramount basicamente pelo mesmo motivo.
O processo de Vaughn foi protocolado na segunda-feira (1º), em corte federal no Estado da Califórnia. Ele alega que, em 2022, foi trocado por um jovem âncora que preenchia os requisitos da política de contratação de minorias; isso culminou em sua saída, em novembro de 2023, após oito anos de casa. Essa prática de inclusão, segundo ele, resulta na demissão (e discriminação) de homens brancos, héteros e mais velhos.
Além de pedir US$ 5 milhões em reparação, Vaughn quer seu emprego de volta.
No documento, o âncora descreve que a CBS tinha como meta, até o ano passado, de ter metade dos roteiristas formados por pessoas não brancas (aqui se encaixa o processo de Beneker). O mesmo se deu com o talento que aparecia na frente das câmeras.
“A CBS decidiu que havia muitos homens brancos em seu plantel e agiu de acordo”, afirma a denúncia. “[A emissora] precisava resolver o seu ‘problema branco’ demitindo homens brancos bem-sucedidos.”
Em 2022, Vaughn foi informado de que seu contrato não seria renovado no ano seguinte, uma decisão sem qualquer relação com performance ou audiência.
Apoiada por militantes de Donald Trump, a turma de advogados por trás desses dois processos faz parte de um movimento contra cotas que inflama o debate social nos Estados Unidos em pleno ano de eleição presidencial. Atacar Hollywood e o mercado televisivo, berço da esquerda e do progresso, faz parte da tática para turbinar os simpatizantes trumpistas na campanha do empresário rumo a um novo mandato na Casa Branca.
Companhias diversas, da financeira Morgan Stanley ao restaurante McDonald’s, estão sendo processadas por grupos de advogados como parte de um movimento para acabar com todo tipo de política de cotas, de racial a de gênero, na hora da contratação de funcionários. Essas cartadas ganharam força desde que a Suprema Corte dos Estados Unidos anulou matrículas em universidades baseadas em cotas (ações afirmativas, como chamam por lá).
Nem a CBS nem a Paramount, até agora, se pronunciaram sobre o caso mais recente. Em relação à Beneker, a emissora usou a Primeira Emenda da Constituição americana para justificar a não contratação do roteirista.
Jeff Vaughn trabalhava no departamento de notícias da KCAL, afiliada da CBS em Los Angeles, Califórnia. Ele começou no mercado televisivo nos anos 2000 e passou por várias cidades até ser contratado pela KCAL, em 2015. No total, Vaughn ganhou quatro Emmys de jornalismo ao longo de sua carreira como âncora de telejornal.
João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br