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Bolha vai estourar? Mercado de séries nos EUA sofre baque pós-greve

O caos toma conta de Hollywood; indústria do entretenimento precisa se reinventar
DIVULGAÇÃO/NETFLIX
Manuel Garcia-Rulfo atrás das câmeras de O Poder e a Lei
Manuel Garcia-Rulfo atrás das câmeras de O Poder e a Lei

Desde meados da década passada se discute sobre o perigo da bolha de séries estourar, nos Estados Unidos, devido à enorme quantidade de produções no ar. Isso quando Hollywood fazia cerca de 400 séries por ano (2015). Agora, a matemática aponta 599 séries ativas (2022). Pelo jeito a saturação chegou ao limite, e no cenário pós-greves, dos roteiristas e atores, o mercado hollywoodiano vai retrair e sofrer um bocado com cancelamentos, baixa encomenda e overdose de trabalho até as coisas se equilibrarem.

Em entrevista ao site Deadline, um executivo top da TV americana, sob anonimato, cravou que “nunca mais vamos voltar a ter 599 séries, nunca”. Outro engravatado endossou a fala do colega e projetou, atemorizado: “a bolha parece que vai estourar.”

A necessária greve dos roteiristas foi positiva no quesito da luta trabalhista. A categoria, representada pelo sindicato WGA, conseguiu enormes ganhos contratuais, como melhorar salários e controlar a ameaça da inteligência artificial. Mas a paralisação longa, quase a maior da história, durando 148 dias, provoca um efeito colateral cavalar.

A indústria de entretenimento americana, essencialmente, estava parada desde 2 de maio. Foram perto de cinco meses sem nada sendo produzido. O que vai acontecer daqui em diante nessa retomada? São muitas séries em desenvolvimento, escritas, gravadas, produzidas… e poucos profissionais e locações disponíveis.

Os roteiristas levaram a sério a greve. A grande maioria realmente cruzou os braços para o trabalho, erguendo-os apenas nos piquetes segurando placas com frases de ordem contra os estúdios e produtoras de Hollywood. Ou seja, muitos projetos vão começar do zero, literalmente, demorando meses para entrar em campo e rodar as câmeras.

O mercado não está favorável à compra de séries, vale acrescentar. Os grandes conglomerados, endividados, vão precisar reajustar os respectivos balanços por causa do novo contrato firmado com o WGA (e tem a renovação do vínculo dos atores, a seguir). O volume de novas séries tende a ser o mais baixo da história recente da TV americana nas próximas temporadas.

Junta-se a isso a onda de cancelamentos, iniciada pela HBO Max e seu plano agressivo de contenção de gastos, que só deve crescer. Veja o exemplo do canal Starz, que nesta semana cancelou quatro séries de uma só vez, sendo que uma dessas estava no meio da produção e nem sequer estreou.

Annie Murphy nos bastidores de Black Mirror
Annie Murphy nos bastidores de Black Mirror

Novo mercado de séries

Mesmo pessoas veteranas da indústria estão espantadas com algumas decisões dos grandes grupos de mídia de cancelar até séries que foram previamente renovadas, como Uma Equipe Muito Especial e Periféricos (ambas do Prime Video). Esse tipo de notícia tem sido comum.

A TV aberta americana, fonte de produções comercializadas para o mundo inteiro, está com o pé mais no freio do que no acelerador. Há uma esperança de que a temporada 2024-2025 seja melhor, no quesito novas séries. Porém, a tendência é que a encomenda de novas atrações seja a menor possível a curto prazo, apenas para tapar buraco na grade de programação.

Um fator a ser considerado nessa imensa e complexa fórmula é a mão de obra livre. Não adianta os conglomerados darem o sinal verde para todo tipo de série, sem critério, se o básico está incerto. Onde vão ser as gravações? Vai ter profissionais para trabalhar atrás das câmeras?

Como Hollywood volta com tudo após quase cinco meses às moscas, os operários dos bastidores, de carpinteiro a figurinista, serão altamente requisitados. A expectativa é que falte bons profissionais na praça.

Isso vale para os grandes artistas do espetáculo também. Atores e atrizes estão sendo assediados a todo instante para fazer séries e filmes ao mesmo tempo. Questões de agenda vão afetar produções diversas, com certeza. Os estúdios pensam nisso na hora de adentrar ou não em um novo projeto.

A avalanche de séries não deve virar uma pequena bola de neve não. O volume será ainda alto nesse pós-greves, porém realmente nada perto da quantidade absurda e impraticável de 600 séries por ano.


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