Em Cobra Kai, o ator Paul Walter Hauser interpreta o carateca Arraia, personagem que o público ama odiar. Sem demérito, ele faz um homem bobalhão e infantilizado, papel que o atravanca. Quem é fã da série da Netflix tem que ver o drama Black Bird, no Apple TV+, para testemunhar a qualidade de Hauser, que dá show vivendo um serial killer sombrio. Acredite, você vai se surpreender.
O fã de Cobra Kai vê em Arraia um personagem raso, apesar de ser primordial no desenvolvimento de coisas importantes ao longo da série, principalmente na quinta temporada, sendo elo da guerra entre Daniel LaRusso (Ralph Macchio) e Terry Silver (Thomas Ian Griffith).
Depois de acompanhar Paul Walter Hauser na atração da franquia Karatê Kid, assistir Black Bird é uma jornada insana. Não tem como não ficar boquiaberto ao ver o ator incorporando com perfeição um assassino frio, obscuro e perturbador. O personagem tem características absolutamente opostas ao Arraia.
No circuito alternativo de Hollywood, Hauser foi destaque em 2019, estrelando o filme Richard Jewell, dirigido por Clint Eastwood. Ele interpretou o segurança que salvou vidas durante as Olimpíadas de Atlanta (1996) ao ver uma mochila cheia de bombas. Porém, eventos seguintes o colocaram como o suspeito de deixar a mochila no local.
Por essa atuação, o ator recebeu aplausos e foi indicado a prêmios. O trabalho o credenciou para Black Bird, minissérie do streaming da Apple, baseada em história real, na qual Hauser encarnou Larry Hall, serial killer suspeito de matar e stalkear várias mulheres nos Estados Unidos, entre 1981 e 1994.
Fala mansa e aterrorizante
Paul Walter Hauser chamou a atenção em Black Bird por desaparecer no personagem. É uma aula de atuação, com o convencimento nas alturas. O personagem usa fala mansa, quase sedutora, enquanto demonstra ter uma mente deturpada.
Black Bird segue os passos de James Keene (Taron Egerton), filho de ex-policial que toca a vida na criminalidade, traficando drogas. O mundo dele cai ao ser preso: dez anos atrás das grades, sem direito a fiança.
Após sete meses encarcerado, James recebe a visita de uma agente do FBI (polícia federal americana) que lhe oferece uma proposta: a pena dele pode ser abrandada, tendo a chance de liberdade imediata, se aceitar ir para uma prisão ocupada por detentos mentalmente problemáticas e arrancar confissão ou prova de um deles.
James teria de fazer amizade logo com Larry Hall. Após relutar, o traficante playboy aceitou o desafio. A missão dele era se aproximar do serial killer e convencê-lo a admitir que matou 14 mulheres, assim como obter provas de onde os corpos foram enterrados.
A interação entre os dois é hipnotizante, em boa parte por causa de Larry. Não se tem dúvida de que o personagem de Hauser é, no mínimo, um perigo para a sociedade. Contudo, a relação criada entre os dois leva o telespectador a conhecer Larry e tentar entender porque ele é tão errático.
Mérito para o ator por dar ao personagem um carisma quase impossível. Não é exagero dizer que a atuação de Paul Walter Hauser está entre as dez melhores das séries neste ano.
João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br
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