
É o fim da série mais pop da história da Netflix. A grandiosidade desse símbolo faz com que a quinta temporada de Stranger Things, cuja primeira parte estreia na quarta-feira (26), seja lançada sob muita pompa. Porém, toda essa pirotecnia que marca o tão aguardado lançamento acoberta aquela que é a mais ridícula temporada já feita pela gigante do streaming em 12 anos de mercado.
Explico: há um nítido desgaste crescente na forma como a produção televisiva é apresentada ao público, ainda que o conteúdo em si continue despertando interesse. Na realidade, a filosofia de uma série de TV inexiste no mundo invertido de Stranger Things.
O incômodo começa pelo intervalo desmesurado entre os episódios. Poucas séries, sobretudo no streaming, passaram por uma pausa tão longa quanto esta. A quarta temporada foi lançada em maio de 2022; são três anos e meio de distância, tempo suficiente para o elenco envelhecer a olhos vistos.
Vide somente o caso de Millie Bobby Brown. Ela tinha 12 anos quando Stranger Things estreou, em 2016. Hoje, tem 21, casou e adotou uma criança. Reforçando que a ficção científica é uma narrativa com personagens na adolescência…
Esse problema no intervalo gigante de temporadas não é único. Tem um ruído na comunicação. Os irmãos Duffer defenderam o hiato várias vezes em conversas com a imprensa, justificando-o como parte da “construção de expectativa”, argumentando que lançamentos anuais, modelo adotado pela indústria televisiva há anos, reduzem o impacto da trama.
A reação imediata, porém, aponta para outra direção: se a intenção é criar longos períodos de preparação, a série flerta abertamente com a lógica do cinema.
E, de certa forma, é exatamente isso que a série se tornou. Os oito capítulos finais terão duração de longas-metragens, entre 90 minutos e duas horas cada. A extensão explica, em parte, a demora, mas também reforça uma sensação de grandiosidade excessiva.
Tem de ser registrada também a escolha da plataforma do tudum de lançar os episódios num modelo monstrengo: nem é de uma só vez, nem é semanal/mensal. Foram criadas três partes distintas. No dia 26 de novembro, chegam quatro episódios; em 25 de dezembro, no Natal, outros três; e o desfecho será exibido em 31 de dezembro, no Ano-Novo. Na prática, a plataforma parece querer ocupar dias festivos e “sequestrar” a atenção do fã, convite que soa mais como imposição do que celebração. •

João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br



