
O drama fantasioso The Witcher, criado para ser um símbolo histórico da Netflix como House of Cards e The Crown, vai acabar antes do tempo. A série, cuja quarta leva foi lançada na quinta-feira (30), está com a quinta temporada confirmada, mas será a última. Sempre acreditou-se que a atração poderia ir muito mais além disso.
Mesmo em meio ao caos nos bastidores, a liderança criativa da adaptação televisiva ganhou uma chance de ouro da gigante do streaming, tendo a oportunidade de encerrar a história nos próprios termos e elaborar uma conclusão satisfatória, sem um fim abrupto e aberto.
Um dos pontos que ruiu The Witcher foi a saída inesperada de Henry Cavill, simplesmente o protagonista da atração. Ele deixou a série ao final da terceira temporada, após um desentendimento com a equipe criativa sobre o andamento da narrativa, principalmente quando o assunto era adaptar as histórias da coleção de livros homônima. O relacionamento estava azedo e foi rompido.
Liam Hemsworth foi escalado para tapar esse buraco, vivendo o herói Geralt de Rívia nas duas últimas temporadas.
Certa vez, quando ainda estava empolgado com a série, Cavill disse que topava fazer até sete temporadas de The Witcher. Havia material suficiente para isso, pois a fonte são os livros best-sellers do escritor polonês Andrzej Sapkowski. Até mais de um livro poderia ser adaptado a cada leva.
Porém, com a decisão de acabar com o drama fantasioso antes do desastre total, os três volumes que fecham a coleção foram adaptados nas duas últimas temporadas de The Witcher: Batismo de Fogo (livro 5), A Torre da Andorinha (6) e A Senhora do Lago (7).
Outro ponto de discórdia se deve à forma como foram adaptadas as histórias criadas por Sapkowski. Muitos fãs da saga, tanto do livro quanto dos games, criticam a Netflix por ter simplificado a narrativa original, optando pela pasteurização.
Isso, de fato, aconteceu e, na visão de Tomek Baginski, produtor-executivo do drama fantasioso, boa parte da culpa recai sobre o público americano.
Ele discorreu sobre o tema em entrevista ao site polonês Wyborcza. Baginski comentou as nítidas mudanças de rumo da adaptação televisiva em relação aos livros. Embora a fidelidade entre um e outro seja impossível, até por questões técnicas e logísticas, a questão de The Witcher belisca fatores específicos, alguns envolvendo a Netflix diretamente.
“Quando uma série é feita para uma grande massa de telespectadores, com diferentes experiências, de diferentes partes do mundo, e grande parte deles são americanos, essas simplificações não só fazem sentido, elas são necessárias”, afirmou.
“Isso é doloroso para nós”, continuou. “Mas quanto maior o nível de nuance e complexidade, menor será a audiência, não conseguindo atingir assim muitas pessoas. Às vezes as alterações são drásticas, contudo temos de fazê-las e aceitá-las”. •

João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br



