Até então vista apenas na margem da trama de A Casa do Dragão (HBO), a religião no mundo de Westeros entrou com força no oitavo episódio da primeira temporada, lançado no domingo (9). A rainha Alicent (Olivia Cooke) personifica essa adição de suma importância, se comportando como uma crente bela e recatada, supostamente obediente sincera da Fé dos Sete.
[Atenção: spoilers a seguir]
Alicent exerce influência direta ao introduzir a religião dentro da Fortaleza Vermelha, sede do governo de Westeros. A relevância disso é que para a família Targaryen, a Fé dos Sete não tem qualquer poder. Os integrantes do clã não obedecem a cartilha de doutrinas (eles cometem incesto, afinal de contas), tudo feito na base de um acordo antigo firmado pelo rei Jaehaerys I, avó de Viserys I (Paddy Considine) e seu antecessor.
O que Jaehaerys I fez basicamente foi deixar cada um no seu quadrado. Os fiéis da religião teriam total liberdade de prática, desde que não se metessem nos assuntos da família Targaryen. A casa dos dragões seguiria sem obrigações doutrinárias e em troca protegeria a religião a qualquer custo, incluindo o uso da força.
Com o rei Viserys I doente e acamado, sem forças para comandar o reino, Alicent tomou as rédeas do governo, auxiliada pelo pai, Otto Hightower (Rhys Ifans), o Mão do Rei. Por sua vez, Rhaenyra (Emma D’Arcy) e Daemon (Matt Smith), agora casados, estavam distantes da Fortaleza Vermelha, tocando a vida no castelo Pedra do Dragão.
Esse cenário permitiu que Alicent fizesse algumas mudanças decorativas no próprio lar. Ela retirou tudo o que poderia lembrar que aquele lugar estaria sob a ingerência dos Targaryens e substituiu itens do clã por símbolos da Fé dos Sete, como a estrela de sete pontas. Ao pisar na Fortaleza Vermelha após seis anos longe, Rhaenyra disse: “mal reconheço este lugar.”
Alicent passou a usar um colar com a estrela de sete pontas, tendo como objetivo a ideia de transmitir um semblante mais religioso e centrado. Até oração antes da refeição ela faz.
Contudo, é de se questionar o quanto Alicent está verdadeiramente devota à religião. Por mais que ela possa crer em algo, tudo não passa de uma ação política para ser melhor vista e aceita pela população, visando proteger o Trono de Ferro contra Rhaenyra, agindo em favor do filho Aegon.
Daemon, por exemplo, não compra essa ideia de mulher virtuosa da rival. Ele não segura o riso ao ouvir e ver Alicent rezando antes de um jantar especial entre parentes. No entender de Daemon, tudo ali não passa de um truque, uma postura religiosa fake.
No mínimo, como o público de A Casa do Dragão sabe, Alicent está sendo hipócrita. Por um lado, tenta ser uma religiosa que demonstra valores morais justos e condizentes com a Fé dos Sete. Mas força aborto, maltrata/agride o filho herdeiro e paga propina para que uma moça se cale após ser estuprada por Aegon. Fica em aberto até quando a crente Alicent irá conseguir manter intacta, publicamente, a imagem de mulher “santa”.
João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br