Chegou ao fim a era da Peak TV (TV no Auge)? A matemática responde que sim, embora a quantidade de séries produzidas ainda continue nas alturas. Contudo, a marca registrada no ano passado é bem menor do que as anteriores. De acordo com estudo da firma Ampere Analysis, a indústria americana de entretenimento produziu 481 séries, em 2023. É um dado bastante inferior ao registrado em 2022, por exemplo, com 633 atrações; montante impraticável, registra-se.
O relatório da Ampere aponta “que a combinação de greves [em Hollywood] e uma desaceleração no boom de conteúdo original” resultou nessa queda brusca. Grandes conglomerados de mídia estão fazendo ferver a máquina do cancelamento de olho na redução dos prejuízos para, quem saber, ver o balanço financeiro no azul. Nessa fórmula tem também o fator encomenda de novas séries, que obteve “um declínio ainda maior”, destacou a Ampere.
O cenário para 2024 deve se repetir. “Devido ao intervalo de tempo entre o sinal verde oferecido a uma atração e sua chegada às telas, é improvável que o volume de séries aumente em 2024”, observa a Ampere. Um dos principais analistas da firma, Fred Black, decretou: “O boom de séries nos EUA finalmente perdeu força.”
Menos temporadas, menos séries
O levantamento trouxe que, em 2023, plataformas de streaming lançaram 77 temporadas de séries a menos em comparação com a pesquisa anterior. Só a Netflix cortou suas estreias de 107 (2022) para 68. A Ampere projeta que, neste ano, os streamings vão diminuir ainda mais a quantidade de atrações estreantes ou novas temporadas.
Todas essas informações concretas casam com a percepção da indústria em geral. Sob anonimato, um executivo top da TV americana disse, ao site Deadline, que “nunca mais vamos voltar a ter 599 séries, nunca”. Outro engravatado endossou a fala do colega e projetou, atemorizado: “a bolha parece que vai estourar.”
Na atual temporada 2023-2024, o que impera é o escorpião no bolso. E o impacto é em todos os cantos. O mercado de aquisição de séries está gelado, e a ordem nos maiores grupos de mídia é cancelar qualquer atração de baixo rendimento.
Um sinal desses tempos de declínio foram os cancelamentos de Young Sheldon, The Good Doctor, Swat e Station 19. Não por coincidência, todas terminadas na sétima temporada. Isso porque, tanto paras as emissoras quanto para as produtoras, tocar uma série da oitava leva em diante significa um orçamento mais caro, de ponta a ponta. Fica mais complicado para uma emissora pagar o licenciamento, e a produtora não tem caixa para tapar o rombo.
Como sempre, a Netflix se apresenta como a líder em uma solução a ser copiada pelos rivais: produzir séries estrangeiras e a defasagem na programação por conta de tantos cortes. O principal fator disso não é a diversidade, ser eclética progressista… Simplesmente esse tipo de investimento é (bem) mais barato do que uma produção hollywoodiana.
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João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br