Uma coisa é certa: você dirá aos seus netos que Riverdale não foi uma série teen comum. Boa ou ruim, a trama adolescente ao menos procurou fugir daquela forma padronizada do gênero, apostando todas as fichas no surreal e no absurdo. Foram sete temporadas alucinantes e bizarras, características que têm de ser vistas como positivas, não negativas.
Grande parcela do público brasileiro está acompanhando agora a última temporada de Riverdale, disponível na Netflix desde sexta-feira (29). A despedida da atração foi exibida no Brasil, pela primeira vez, no canal pago da Warner, simultaneamente com a transmissão nos Estados Unidos, na rede The CW. O episódio final de Riverdale foi ao ar em 23 de agosto deste ano.
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Riverdale não colocou o pé no freio nos absurdos que decidiu abordar. De vida paralela nos anos 1950 a jogo de RPG mortal, foram ousadias boas da trama cuja base é um gibi, palco onde tudo é possível, cujo lema é ignorar o compromisso com o factual.
O ruído criado em torno de Riverdale, que faz a série ser motivo de piada, é um erro de interpretação. Curiosamente, a razão disso é talvez a melhor temporada da série, a primeira.
Quando Riverdale foi lançada, em 2017, havia um vazio a ser preenchido no mundo das séries. A vaga aberta era para uma narrativa teen clássica, bem conservadora e novelesca. Riverdale foi tudo isso na leva inicial, que em 13 episódios entregou uma ótima história com muito mistério, aspirante a Twin Peaks juvenil.
A proposta da atração mudou da segunda leva em diante, principalmente pelo fato de ter ganhado mais episódios (22). Ou seja, foi necessário exigir dos roteiristas bastante criatividade para corresponder a encomenda turbinada. O criador Roberto Aguirre-Sacasa sabia muito bem o que fazer.
Daquele ponto em diante, Riverdale tomou um psicodélico e viajou. A brisa veio para revigorar a série, se reinventando a cada ano com narrativas diferentonas.
Se o público contemporâneo não entendeu a mensagem, quem sabe o futuro seja mais bondoso e coloque o drama teen em seu lugar ideal, o de uma série descompromissada, divertida e absurda sim, porém pelo ponto de vista prazeroso.
Não será surpresa se as gerações vindouras rotularem Riverdale como cult e experimental.
Recentemente, o elenco conversou com o site Vulture sobre o legado da série, contando histórias de bastidores e compartilhando tudo o que rolou nas últimas sete temporadas. Todos foram bem sinceros ao comentar os absurdos mostrados ao longo dos mais de 130 episódios.
Lili Reinhart, particularmente, mostrou-se incomodada com a má fama de Riverdale, de ser uma série ridícula (no mau sentido). Ela falou dos vídeos espalhados nas redes sociais, retirados do contexto, que zombam o drama teen. A atriz admitiu que é difícil ser motivo de piada quando os absurdos da série ganham destaque.
Camila Mendes completou esse comentário com uma análise precisa:
“Filmes de super-heróis dominam os cinemas nos dias de hoje. E ali estão as histórias mais absurdas que você possa imaginar! Tem a porra de um guaxinim lutando contra aliens no espaço [referência ao filme Guardiões da Galáxia]! E ninguém fala coisas tipo: ‘Isso não faz sentido’. Nós somos um gibi, uma história em quadrinhos; deveríamos ser divertido, fictício e estranho mesmo. Se você quiser assistir uma série teen onde há um monte de crianças no ensino médio lidando com relações dramáticas, tem um monte disso por aí.”
“Vá assistir Euphoria”, arrematou Cole Sprouse.
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João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br