Em uma entrevista inusitada, misturando fatos com ficção, Kevin Spacey afirmou categoricamente: “ANetflix existe por minha causa”. Na pele de Frank Underwood, seu personagem na primeira série da gigante do streaming, House of Cards, o ator brincou com a justaposição de si próprio com o político Frank, dizendo que gosta quando arte e realidade viram uma coisa só.
Todo Natal, desde 2018, Kevin Spacey tem esta tradição esquisita: ele entra na pele de Frank para passar um recado de final de ano, costume que surgiu para se defender dos ataques que passou a sofrer, acusado de abuso sexual (foram vários processos). Na época, ele falou que “logo vocês vão saber toda a verdade.”
Neste ano, a mensagem natalina veio em forma de entrevista, concedida ao controverso telejornalista Tucker Carlson. O âncora introduziu o assunto Netflix ao citar que o entrevistado, seja Kevin Spacey ou Frank Underwood, não necessariamente está fora da plataforma. Pois, segundo Carlson, o som do “tudum”, que surge a cada play em um programa, é inspirado no protagonista de House of Cards (essa não é a versão oficial da criação desse som).
Spacey concordou, dando dois tapas na mesa, e completou: “É bizarro que tenham decidido cortar publicamente os laços comigo apenas com base em alegações, alegações que agora foram provadas falsas. Porque não acho que haja qualquer dúvida: a Netflix existe por minha causa. Coloquei eles no mapa e eles tentaram me enterrar.”
Em todos os julgamentos que enfrentou, tanto nos Estados Unidos quanto na Inglaterra, Kevin Spacey foi absolvido, tratado pela Justiça como inocente. As alegações contra ele, surgidas há seis anos, resultaram em seu afastamento da indústria do entretenimento, a começar pela demissão sumária de House of Cards.
Livre de processos e inocentado, ele quer voltar a trabalhar. Carlson perguntou sobre isso, recebendo o seguinte como resposta: “Eu voltei a trabalhar no momento que essa entrevista começou, Tucker.”
“Isso significa que isso é um episódio ou é real?”, o jornalista devolveu.
“Provavelmente é um pouco dos dois”, provocou Spacey. “Quero dizer, Tucker… o que é verdadeiro e o que é falso? O que é vida e o que é arte? O que é real, o que é atuação? Adoro quando essas coisas se cruzam, porque aí fica interessante.”
Veja a entrevista de Kevin Spacey/Frank Underwood para Tucker Carlson (em inglês):
A história de House of Cards
Em 1º de fevereiro de 2013, a Netflix lançou House of Cards, marcando sua entrada no mundo da produção de entretenimento com uma grande novidade e aposta: todos os episódios da primeira temporada foram lançados de uma só vez.
House of Cards foi adaptação de uma minissérie britânica homônima, exibida em 1990. A versão americana acompanhou o deputado federal Frank Underwood (Spacey) que, após não receber o cargo de Secretário de Estado como fora prometido durante a campanha presidencial, encabeça uma trajetória de vingança para tomar o poder político americano para si, ajudado pela mulher, Claire (Robin Wright), tão ambiciosa quanto ele.
O drama político terminou em 2018, após seis temporadas (73 episódios). A primeira temporada recebeu nove indicações ao Emmy de 2013, incluindo melhor drama (categoria que contou com narrativa política em outras quatro oportunidades). No total, foram 56 indicações ao Emmy, com sete vitórias.
João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br
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