Imagina House of Cards na HBO… O drama político tem mesmo a cara do canal premium, não é? Mas a série acabou indo para a Netflix, virando cartão-postal da gigante do streaming, mesmo tendo acordo prévio, na base do aperto de mão, com a HBO. A negociação girou em torno de algo que mudou a cara de se fazer TV: produzir e lançar todos os episódios de uma temporada de uma só vez, sem análise do material antes do sinal verde.
Os detalhes desse caso estão contados no livro Pandora’s Box: How Guts, Guile, and Greed Upended TV, lançado nesta semana, nos Estados Unidos (inédito no Brasil). Nele, o autor Peter Biskind revela os bastidores da nova era de ouro da televisão americana, dedicando vários trechos aos altos e baixos da Netflix.
Ao descrever o nascimento da plataforma do tudum, House of Cards serve como objeto central. Após alguns experimentos, a empresa famosa por aluguéis de DVD’s estava decidida a investir na produção de conteúdo original. Ted Sarandos, com a tag chefe de conteúdo em seu crachá, analisava vários projetos. House of Cards estava no balaio.
Ao receber os roteiros dos 13 episódios da primeira temporada delineados de antemão, o executivo notou que eles estavam surrados, pois haviam rodados por toda Hollywood. A produtora MRC ofereceu House of Cards aos principais canais da TV paga americana da época: HBO, Showtime e AMC. A HBO tinha a preferência.
Sarandos passou a chamar a atenção por concordar com a ideia dos produtores de fazer todos os episódios de uma só vez, sem precisar analisar o piloto (primeiro episódio) para aprovar o projeto completo. Essa prática de produção de pilotos é tradição em Hollywood.
A Netflix fez uma proposta sem precedentes: US$ 100 milhões para realizar duas temporadas inteiras, isso sem avaliação de piloto, sem ver nada concreto. Era uma oferta irrecusável, ninguém iria equiparar aquilo.
Por sua vez, a HBO exigia ver o piloto antes de embarcar, como fez com Game of Thrones e tantas outras séries. Os executivos do canal pago foram irredutíveis, logo não colocando na mesa uma contraproposta para bater a Netflix.
“A MRC não honrou o aperto de mão que fizemos”, disse Quentin Schaffer, chefe de comunicação da HBO, em entrevista ao livro. “House of Cards era uma série que queríamos. E, naquele momento, nós acreditávamos que estava tudo certo… Então, Sarandos veio e arrebatou-a de maneira brilhante.”
E tinha mais: a Netflix chocou o mundo do entretenimento ao lançar, em 1º de fevereiro de 2013, todos os 13 episódios da primeira temporada do drama político, estrelado por Kevin Spacey e Robin Wright. O resto é história, de uma atração arrebatadora que mudou a cara de Hollywood. A reta final, contudo, ficou manchada por causa de demissão de Spacey e um término manco que precisou ser refeito a toque de caixa, sem o astro no set.
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João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br