A entidade patronal AMPTP, que representa os nove maiores estúdios hollywoodianos, anunciou que a negociação com o sindicato dos atores (SAG) está suspensa por tempo indeterminado, decisão que deve prolongar ainda mais a greve dos atores, que se aproxima dos cem dias. O que fica são declarações de um lado atacando o outro.
Em nota, a líder da AMPTP nesse embate, Carol Lombardini, disse que “após conversas proveitosas, percebe-se um claro distanciamento entre a AMPTP e o SAG. Isso chegou a um ponto no qual a negociação não está caminhando para uma direção positiva.”
Já a presidente do SAG, a atriz Fran Drescher, ao lado do negociador Duncan Crabtree-Ireland, disparou: “Sacrificamos muito para ceder agora à obstinação e ganância [dos estúdios]. Estamos unidos e prontos para negociar hoje, amanhã e todos os dias.”
São dois pontos da discórdia: regular o uso da inteligência artificial e dividir o lucro dos streamings. Neste segundo tópico, segundo a AMPTP, a proposta do sindicato vai custar aos estúdios US$ 800 milhões por ano (US$ 2,4 bilhões em três anos de contrato). A entidade patronal classificou isso como “carga econômica insustentável.”
Por sua vez, o SAG rebateu tal percepção, alegando que fez “concessões significativas (…) incluindo a transformação completa da nossa proposta sobre a divisão de receitas, o que custaria às empresas menos de 57 centavos de dólar por assinante a cada ano.”
Sobre o uso da inteligência artificial, o medo dos atores é real e justificável, como visto com a mais recente ação da empresa Meta que, com o consentimento de celebridades conhecidas, criou avatares “que são rostos familiares que representam personagens, não a pessoa em si”. Isso para que qualquer pessoa possa conversar com esse “ser virtual” em uma rede social. É um episódio de Black Mirror virando realidade.
O SAG quer restringir o impacto da inteligência artificial, enquanto que os estúdios propõe, de acordo com o sindicato, escanear atores, principalmente figurantes, e usar suas imagens “para toda a eternidade”, sem consentimento. Isso seria muito benéfico aos estúdios, pois economizariam muito dinheiro na produção de séries e filmes.
A AMPTP, nos últimos dias, colocou em prática uma estratégia usada contra os roteiristas anteriormente, algo que não funcionou. Representantes da entidade patronal burlaram o protocolo e conversaram com os atores direto, sem comunicar a diretoria ou o time de negociadores. Isso para tentar jogar os atores contra a cúpula do SAG.
No caso dos roteiristas, isso rolou perto dos cem dias de greve também. O sindicato da categoria, o WGA, ficou mais forte depois desse assédio, e a paralisação chegou ao fim apenas no 148º dia, com o WGA podendo ser considerado o grande vencedor da negociação.
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João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br