Uma das melhores séries da história da Netflix, vencedora do Emmy Internacional de melhor comédia, Sex Education teve um final melancólico. E não necessariamente por questões sobre rumos e escolhas tomadas pelos personagens no desfecho, coisas que vão agradar uns e desagradar outros, faz parte. O grande problema é que a quarta e última temporada ficou com outra cara, quase parecendo um spin-off.
Teve personagem central fora do núcleo (Maeve nos Estados Unidos), em vibe e ambiente totalmente diferentes. Novos personagens que mudaram de forma abrupta a própria essência da trama. E o cenário da nova escola, um choque de mudança em comparação com o colégio anterior.
De fato, se dissessem que essa era uma série derivada de Sex Education, dava para acreditar tranquilamente.
Esses são fatos evidentes. Contudo, é importante registrar que grande parte das alterações radicais não foram escolhas meramente criativas. Duas delas, novos personagens e nova escola, tiveram de ser aplicadas por fatores externos.
Meio que do nada, vários atores deixaram o elenco. Claro, para tapar esse buraco, outros nomes tiveram de ser contratados. Nada menos do que oito reforços entraram no elenco logo na temporada final de Sex Education, o dobro dos que saíram. Não deu nem para conhecê-los com profundidade, deixando a impressão que entraram mesmo apenas para cobrir a lacuna deixada.
A questão da nova escola, saiu a Moordale Secondary School para entrar o colégio Cavendish, foi um caminho que a comédia precisaria tomar, de uma forma ou de outra. O resultado na tela, pelo ponto de vista do roteiro, ficou esquisito, com a troca de escolas ocorrendo bem no ano de conclusão do ensino médio.
Aqui, em parte, a ficção copiou a realidade. A venda e fechamento da Moordale na em Sex Education imitou o que aconteceu com o prédio centenário na vida real.
Na trama (terceira temporada), a escola de Moordale fechou após perder credibilidade, resultado de uma sequência de escândalos que afastaram investidores e a parcela de pais que pagavam mensalidades para seus filhos estudarem lá. A escola fechou, e a direção optou por vendê-la a alguma construtora interessada.
Na vida real, o antigo campus da Universidade South Wales virou um verdadeiro canteiro de obras. A empresa Redrow, uma das maiores construtoras britânicas, comprou todo o complexo localizado na cidade de Newport, País de Gales. O projeto inicial é erguer ali cerca de 200 casas/apartamentos (40 só no prédio de entrada), alguns com até quatro dormitórios.
Moordale, com suas icônica jaqueta e visual de escola tradicional, é uma marca de Sex Education. Não tê-la bem na leva final de episódios foi um ponto negativo.
Mas a equipe da série tinha de achar uma solução para, ao menos, encerrar o enredo de forma apropriada com essa quarta temporada final, não importando como fosse. Fez isso sim, mas ao custo de entregar praticamente uma outra série, quase que descaracterizada.
Legado de Sex Education
Esse contexto coloca uma pequena mancha no legado de Sex Education, mas nada que prejudique o todo, pois foram três temporadas ótimas.
Engajada ao abordar o tema do sexo, que é cringe mas rende, a comédia britânica ignorou a vergonha e falou de sexo de ponta a ponta, sob a perspectiva de jovens alunos do ensino médio.
Foi interessante a escolha dessa faixa etária, pois é quando existe mais curiosidade sobre o assunto; fora que é nesse período da vida que há uma busca incessante pela prática do ato. A trama educou e fez rir ao mesmo tempo, sendo uma ótima opção de entretenimento; apesar dos pesares.
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João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br
