A empolgação acerca de Cangaço Novo, arrebatador drama nacional do Prime Video, tem levado gente a rotulá-la não apenas com “uma das”, mas simplesmente a melhor série brasileira de todos os tempos. Embora a qualidade da produção esteja bem acima da média, é melhor segurar a onda, refletir um pouco e não se deixar levar pela euforia.
Nesse tipo de debate, procuro o meio termo. Sou contra só valorizar as coisas do passado, como se nada de bom fosse feito no presente. Também não é ideal supervalorizar o presente em detrimento do passado. Uma viagem no tempo sempre é bem-vinda para refrescar a memória. E nem precisa ir tão longe assim.
Da mesma forma, vale distinguir o que é melhor e maior. O primeiro carimbo deve se referir à qualidade da atração no todo, ressaltando os aspectos técnicos (roteiro, direção, atuação…). Já maior serve melhor para classificar aquelas produções populares, grandiosas, que desafiaram o espaço da TV e da bolha do entretenimento, aquelas que vão além das referências na cultura pop.
Acontece que no Brasil, até este instante, a discussão está aberta nas duas frentes. Ainda não foi feita a melhor série brasileira de todos os tempos. Enquanto isso, existe uma forte candidata à maior série brasileira da história, porém há brecha para o debate.
Isso não acontece na TV americana, usando aqui um exemplo comum e mais palpável. A melhor série de todos os tempos é The Sopranos, da HBO. Não se discute isso. Quando Breaking Bad e Mad Men entram na roda da conversa, é mais para valorizá-las do que visando tomar o lugar do drama mafioso.
E a maior série de todos os tempos é Game of Thrones, queiram os detratores ou não. Eis a série mais premiada da história do Emmy: 59 estatuetas e 160 indicações; e no geral, foram 272 vitórias em premiações. E mais: foi a série mais vista da década passada em todo o mundo (e isso simultaneamente, um fenômeno). Provocou um impacto difícil de ser copiado, embora muitos tentam ser “a nova Game of Thrones.”
Qual a melhor série brasileira da história?
Sem dúvida, Cangaço Novo tem muitos pontos fortes para disputar essa corrida, buscando as primeiras posições. Drama que demorou dez anos para ganhar vida, da criação do argumento da trama até a estreia no Prime Video, Cangaço Novo é espetacular em vários aspectos, chamando mais a atenção para as cenas de ação espetaculares e um roteiro inventivo, misturando de bandidagem a religião, dando uma boa passada pela política.
Se Cangaço Novo é a melhor, quem ela superou? Vale recordar o que a indústria nacional de séries já entregou ao espectador.
Tem o caso notório, de absoluta grandeza, de Sob Pressão (Globo/Globoplay), que ao estilo mais brasileiro possível deu um novo ar às tramas ambientadas em hospitais, mostrando ao público nativo e internacional a rotina pesada e tensa de um hospital público, um retrato necessário sobre o SUS (Sistema Único de Saúde).
Driblando a negatividade, 3% (Netflix) tem muito mérito por ter sido pioneira na gigante do streaming, entre as produções de língua não inglesa, a fazer sucesso no mundo inteiro. Concretizou o meme “3% andou para Round 6 correr”. No gênero raro de ser visto no audiovisual brasileiro, a ficção científica fez história.
Tem a recente Passaporte para Liberdade, de 2021, uma das melhores produções já realizadas pela Globo. Em parceria com a Sony, surgiu uma minissérie classuda, do mais alto nível.
Narrativas de impacto antigas merecem ser lembradas, como Anos Rebeldes (Globo) e Confissões de Adolescente (TV Cultura). Assim como dramas mais atuais frutos da TV paga, de O Negócio (HBO) à Sessão de Terapia (GNT/Globoplay).
No Emmy Internacional de melhor drama, o Brasil nunca saiu vencedor. Mas contou com muitas atrações indicadas: 1 Contra Todos (Fox/Star+), Mandrake (HBO), Justiça (Globo), Sinhá Moça (Globo), Na Forma da Lei (Globo), O Brado Retumbante (Globo) e Psi (HBO).
Vale o registro: já são quatro edições seguidas que o Brasil não conta com série indicada ao Emmy Internacional de melhor drama. Por outro lado, o Brasil é o segundo país com mais indicações nessa categoria (10), só atrás do Reino Unido (20).
Entre as comédias, entra aqui o tópico maior série brasileira de todos os tempos. Talvez esse posto deva ser dado para A Grande Família, sitcom que entregou incríveis 485 episódios, espalhados em 14 temporadas, que flerta com a unanimidade entre o povo brasileiro. Querida ao extremo, é uma série que está lá no topo.
No humor, o Brasil foi melhor no Emmy, ganhando a estatueta de melhor comédia três vezes: A Mulher Invisível (Globo, 2012), Doce de Mãe (Globo, 2015) e Ninguém Tá Olhando (Netflix, 2020); em 2019, o filme Se Beber, Não Ceie, feito pelo Porta dos Fundos para a Netflix, ganhou essa categoria.
Qualquer conversa, texto ou algo do tipo que coloque Cangaço Novo como a melhor série brasileira da história tem de considerar, no mínimo, as atrações aqui citadas. Com esse breve panorama, percebe-se que não há nenhuma produção favoritaça ao posto. A briga é bastante acirrada.
Em tempo: na categoria de melhor novela no Emmy Internacional, o Brasil lidera todos os países, tanto em indicações (14) quanto em vitórias (7).
João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br
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