A atual greve dupla em Hollywood, declarada por atores e roteiristas, é bastante anormal. A última vez que essa dobradinha aconteceu foi em 1960. Embora tenha sido há mais de meio século (63 anos), as paralisações de então foram motivadas por questões bem similares às lutas de ambas as categorias no presente. Na época, já se cobrava um repasse melhor, dos estúdios aos atores/roteiristas, acerca do direito de imagem (residual) de obras licenciadas.
Dois pontos cruciais estavam em jogo. O impasse maior girava em torno dos filmes lançados no cinema que eram adquiridos por emissoras de TV, prática ainda incipiente. Os estúdios faziam essa comercialização sem um acordo formalizado com os sindicatos. Essencialmente, todo o dinheiro arrecadado nas vendas iam aos cofres dos grandes conglomerados de mídia; e parte para a conta bancária dos executivos.
Havia também a luta por fundo de aposentadoria aos profissionais de ambas as classes e direito a plano de saúde, fora a disputa por melhores condições de trabalho.
As paralisações ocorreram no começo do ano. A greve do sindicato dos roteiristas (WGA) foi decretada em 16 de janeiro e a do sindicato dos atores (SAG), em 7 de março.
Diferentemente de hoje, as negociações com os patrões eram separadas em produções do cinema e atrações da TV, o que só complicava a busca por um acordo. E ambos os lados usavam a imprensa, tal qual atualmente, para trocar farpas. Os diários impressos da The Hollywood Reporter e Variety registraram tudo.
Falando à Variety, Spyros Skouras, presidente do poderoso estúdio de cinema 20th Century Fox, disse que sua empresa estava com planos de deixar os Estados Unidos e só trabalhar na Europa, caso as greves se prolongassem. Rebatendo o executivo, Michael Franklin, secretário do WGA, o chamou para a conversa: “Assuma alguma responsabilidade e sente-se à mesa conosco, caso realmente queira pôr um fim na greve.”
Hollywood não temia muito a greve dos roteiristas, por isso adiou (e muito) as conversas para resolver as questões apresentadas. O temor era lidar com a paralisação dos atores, as maiores estrelas do espetáculo hollywoodiano. Foi quando o caldo começou a engrossar.
O SAG tinha um líder carismático e admirado: Ronald Reagan (1911-2004). Ator de cinema que migrou para a TV, Reagan teve dois mandatos à frente do sindicato: 1947-1952, 1959-1960. Ali, ele demonstrava o fino trato com a política, trilha tomada nos anos seguintes. Foi governador da Califórnia (1967-1975) e o 40º presidente dos Estados Unidos, de 1981 a 1989 (dois mandatos).
Em seis semanas, a grave dos atores foi resolvida, encerrada em 18 de abril; Reagan foi ovacionado por ter obtido as principais exigências da categoria. Os roteiristas, por sua vez, continuaram no campo de batalha durante mais oito semanas, isso por haver conflitos internos sobre como proceder nas negociações, decidindo o que valeria ceder ou não. Dois acordos oferecidos pelos estúdios chegaram a ser rejeitados.
A greve dos roteiristas durou 148 dias, encerrada em 12 de junho para os trabalhadores do cinema. O contrato da TV só foi firmado uma semana depois.
João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br
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