A evolução constante de Rita (Bruna Mascarenhas), de marreteira fugindo do rapa a estudante de direito, faz dela não apenas a melhor personagem de Sintonia, mas uma das figuras mais marcantes e profundas vistas em séries brasileiras nos últimos tempos. A jovem que “cada hora está em uma coisa”, como diz seu amigo Doni (Jottapê), segue trajetória sempre para frente, não necessariamente deixando de cometer deslizes, falhas normais que a deixam ainda mais ideal.
Na atual quarta temporada, o público de Sintonia relembra a situação de Rita no começo da narrativa. Em período delicado na vida, ela acabou largando a escola para se dedicar a vender produtos pela capital paulista, usando até passarela em terminal de transporte público como palco da marretagem.
Rita sofreu um choque de realidade após saber que sua amiga Cacau (Danielle Olímpia) foi presa, em parte, por sua culpa. Sozinha na correria, sem pai nem mãe por perto, ela aos poucos segue em direção a uma nova vida ao se aproximar da pastora Sueli (Fernanda Viacava). Nessa altura, fundamentos da existência humana, como questionar a verdadeira justiça, passam a permear a mente da jovem.
Acolhida por Sueli e integrante ativa na obra de Deus, Rita pisa na segunda temporada mais centrada. E tem um dos seus grandes momentos ao encarar o pai e confrontá-lo, falando do abandono feito por ele quando a filha tinha apenas 14 anos. Era um encontro que precisava ter.
Rita Crente
Forte na caminhada como crente, mudando de vestimenta e até o jeito de falar, ela mergulha de cabeça nos trabalhos da igreja, seja como pregadora ou liderando reformas no templo da quebrada, na Vila Áurea, batizado de Igreja Pentecostal Ministério da Graça e Adoração. E como não podia deixar de ser, a personagem entra em um triângulo amoroso, com dois pretendentes na disputa.
Um passo firme à frente é dado na terceira leva, quando Rita é escolhida para ser a representante da congregação regional que quer um jovem evangélico dentro da Câmara de Vereadores paulistana. É a política ganhando espaço na jornada da personagem, colocando-a em uma encruzilhada entre defender interesses da igreja ou do povão humilde que necessita de amparo.
Rita política
O namorado de Rita, Cleyton (MC M10), é preso. Esse é o feixe de luz que começa a brilhar na jovem contra as injustiças do sistema criminal e judicial brasileiro, muito falho nas prisões de jovens periféricos e execuções de pena. É uma bandeira que ela levanta, inclusive em sua candidatura, em defesa de jovens marginalizados pelo sistema.
Outro momento seu de ladra de cena foi quando discursou para pessoas da igreja traçando paralelos entre a rebeldia de Jesus e a periferia: “Ele [Cristo] foi perseguido pelos poderosos de Seu tempo e desafiou todos eles. Eu deixo uma pergunta para vocês meditarem: não é isso que a periferia enfrenta todo dia?”
Essa “vida nos dois mundos” pesou, e Rita resolveu abandonar a candidatura, apesar de pressão da igreja e da “maldição” jogada por um pastor. A jovem decidiu buscar servir a Deus e a comunidade de outra forma.
Rita advogada
Na quarta temporada, Rita escolhe “voltar a estudar pra poder lutar pelos nossos”, como diz à pastora Sueli. A trilha espinhosa consistiu em: trabalho para pagar as contas, cursinho, se preparar para o Enem, conseguir bolsa de estudos… Aprovada, ela encara os desafios não tão menos árduos da faculdade de direito.
Outro melhor momento de Rita veio no terceiro episódio da leva quando, durante atividade em classe, precisou assumir o papel de advogada do réu em um júri simulado. Ela arrebatou a todos ao defender o jovem de favela “cliente”, que disse ser inocente de um assassinato.
Suas palavras cortantes e precisas, carregadas de emoção, expôs a opressão da ação policial desproporcional contra os jovens à margem do sistema. Ao final da argumentação fervorosa, seus colegas de classe a aplaudiram.
Degrau a degrau, Rita chegou nesse estágio de ter a chama necessária para lutar contra as adversidades e defender o que acredita ser o certo, independentemente das circunstâncias ao redor. Ela é, disparada, a personagem de Sintonia mais cativante e madura. E, claro, muito bem defendida pela brilhante Bruna Mascarenhas.
João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br
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