O clima não é de pura união nos piquetes que tomam conta de Hollywood e “paralisam” a indústria de entretenimento americana. Esse “paralisam” é assim mesmo entre aspas porque nem todo mundo está de braços cruzados. Apesar da greve decretada há uma semana pelo sindicato dos atores (SAG), filmes e séries seguem gravando cenas após receberem autorização especial. Embora tudo esteja dentro do acordado, sem violações legais, há o aspecto moral questionado por grevistas que participam de protestos nas ruas e em frente aos portões dos grandes estúdios.
O SAG divulgou uma lista com várias produções, cerca de 50, dando aval para continuem os trabalhos mesmo nessa situação de greve. São os casos da série fenômeno The Chosen (Globoplay e Netflix) e do drama Teerã (Apple TV+).
Basicamente, atrações realmente independentes, sem ligação com qualquer estúdio hollywoodiano integrante da AMPTP, pode furar a greve. Por mais que em seu elenco tenha atores filiados ao SAG.
Como parte da isenção, a produtora independente agraciada com a permissão se compromete a obedecer o novo contrato a ser firmado com a AMPTP de forma retroativa, assim que a greve chegar ao fim.
Entra em cena o debate moral. Os atores dessas produções específicas devem fazer seus respectivos trabalhos normalmente? Ou têm de ser solidários com os mais de 150 mil colegas do SAG e recusar aparecer em frente das câmeras após o grito de ação?
Bob Odenkirk, um dos atores mais conhecidos da atualidade, estrela de Better Call Saul e Breaking Bad, tem sido uma das vozes mais potentes a favor da greve absoluta. Ele é contra essas isenções e não esconde sua posição.
“É uma greve [da categoria]. Então, participe da greve”, disse o ator, em entrevista ao site The Wrap, durante piquete em frente ao estúdio da Paramount. Ele deu o recado como se estivesse falando diretamente para os fura-greves. “Você perde [com isso], nós perdemos. Todo mundo perde. Tem vezes que você tem de fazer o que é mais difícil.”
Grandes nomes da atuação estão nos projetos “abençoados” pelo SAG em meio à greve, tipo Anne Hathaway, Matthew McConaughey, Rebel Wilson, Paul Rudd, Jenna Ortega e Mads Mikkelsen.
Ike Barinholtz, da primeira temporada da comédia Depois da Festa, tem o mesmo pensamento de Odenkirk. “Estamos no mesmo barco. E se alguns de nós começar a trabalhar em novos projetos, vai causar dissensão. E precisamos do oposto disso. Precisamos de solidariedade”, comentou.
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João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br