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Análise: streamings imitam TV convencional ao abortar séries novatas sem dó

Da Netflix ao Disney+, plataformas usam temporadas de estreia como teste
DIVULGAÇÃO/ABC
Karen Gillan em Selfie; sitcom de 2014 iniciou tendência
Karen Gillan em Selfie; sitcom de 2014 iniciou tendência

Para os streamings, a primeira temporada de uma série têm o mesmo valor de um primeiro episódio na TV convencional (as redes americanas de sinal aberto): serve como piloto, teste real para ver se a atração merece seguir em frente ou não. E se caso a resposta for não, a produção é jogada no lixo, sem cerimônias. Perceba que o tempo passa, avanços são feitos, mas o modelo de negócio das tão modernas plataformas repete fórmula antiga.

O que os streamings estão fazendo neste instante, da HBO Max ao Disney+, que é se livrar de séries após uma única temporada, é exatamente o que ABC, CBS e afins praticavam até meados da década passada. Era muito comum comédias e dramas serem cancelados no meio do caminho, após a exibição de três ou quatro episódios, e simplesmente desaparecerem.

Willow, do Disney+, é um exemplo disso. A série vai ser removida da plataforma agora em maio, seis meses após o lançamento. O streaming do Mickey Mouse viu que a atração não rendeu nada e que daria prejuízo para o conglomerado se permanecesse no catálogo. Então, remoção sem dó.

Acontece que a primeira temporada completa foi produzida e lançada. Ou seja, muito dinheiro foi investido, e nada será feito para amenizar a perda, como lançar um DVD, vender a série para canais pagos, nos Estados Unidos ou ao redor do mundo… É uma criação que some do mapa, literalmente.

Os enormes conglomerados hollywoodianos têm uma carta na manga para corrigir esse prumo. São os chamados Fast, streamings gratuitos com exibição de propagandas, tipo Pluto TV (grupo Paramount). A Warner Bros. Discovery, dona da HBO Max, estuda lançar uma plataforma parecida. É o jeito de ganhar um dinheiro com anúncios, sendo também o ponto de despejo de séries abortadas.

No mundo dos streamings, a coroa vai para a Netflix, a rainha em terminar séries após uma única temporada. Até para acabar com essa má fama, a gigante do streaming, pela primeira vez, vai fazer uma análise prévia de um programa (ver o piloto da comédia Little Sky) antes de encomendar uma temporada completa.

Pré-streaming, as redes americanas tomavam decisões abruptas. No caso, séries saiam do ar após apenas poucos episódios de exibição, caso a audiência fosse aquém do esperado. O cancelamento era feito mesmo com vários episódios produzidos. Era preferível tirar tal atração do ar e substituí-la por reprises de sitcom ou drama populares.

A partir de 2013, com a popularização do streaming, os estúdios de Hollywood iniciaram um novo acordo com as redes; tratando-se de séries ruins a ponto de serem canceladas. 

A ideia era ao menos transmitir a primeira temporada, por volta de 13 episódios, e depois viria o término oficial. Assim, determinada série poderia ser comercializada para render um dinheiro e reduzir o prejuízo. O Globoplay, aqui no Brasil, lidera a corrida de adquirir séries canceladas após uma única temporada.

Selfie, em 2014, foi uma das primeiras atrações a fazer parte desse experimento. A sitcom sofrível da ABC foi cancelada e retirada do ar depois de apenas seis episódios. Mas existiam outros seis já produzidos. O destino foi despejá-los na plataforma Hulu. Daí, a comédia foi oferecida ao mercado internacional e teve interessados (no Brasil, foi exibida na Warner Channel).

Tornou-se caso raríssimo uma série da TV aberta americana ser cancelada no meio do caminho da primeira temporada. Há muitos cancelamentos sim, mas são após a exibição de estreia. Alasca: Em Busca da Notícia, da ABC, se encaixa nesse esquema. Entrou no streaming Star+ na semana passada, já cancelada, com a primeira temporada completa.

São escassas as situações, na era dos streamings, de séries abortadas antes do final da temporada de estreia. O exemplo mais emblemático foi de No Doubt, em 2017, que saiu do ar na rede CBS após dois (!) episódios exibidos. A trama foi protagonizada por Katherine Heigl (Grey’s Anatomy) e Laverne Cox (Orange Is the New Black). 

Na temporada de verão, a mais derrubada da TV americana, a CBS arranjou um jeito de despejar os outros 11 episódios, completando 13. O drama jurídico entrou no mercado internacional em busca de compradores. No Brasil foi disponibilizado no… Globoplay.


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