A realidade de uma greve tripla (e histórica) em Hollywood se aproxima. Em meio a paralisação dos roteiristas, o sindicato dos diretores (DGA) da indústria de entretenimento americana inicia nesta semana as negociações para renovar contrato com os estúdios, patrões representados pela AMPTP. Se um acordo não for feito até 30 de junho, mais uma categoria hollywoodiana cruza os braços. Os atores são os próximos na fila.
O DGA sempre foi o mais tranquilo nesse terreno. Em toda a história, a categoria só parou de trabalhar em uma única oportunidade, em 1987; a interrupção foi brevíssima, cerca de três horas apenas. Contudo, agora a situação é bem diferente, com a entidade tomando uma postura mais agressiva do que o usual.
Lesli Linka Glatter, oito vezes indicada ao Emmy e atualmente no ar com Amor e Morte (HBO Max), é a presidente do sindicato. A diretora promete lutar com unhas e dentes por um acordo rentável para os cerca de 19 mil filiados. As questões dos residuais, dinheiro pago pelas produtoras relacionado ao direito autoral, é o tema central das negociações do DGA com a AMPTP, similar ao que ocorre com os roteiristas.
Na era pré-streaming, o modelo de pagamento aos diretores era bem simples. O profissional recebia um valor pela direção em si de determinado episódio ou projeto (o salário). Após isso, a cada reprise do seu trabalho, em qualquer meio, ele era recompensado. Com as plataformas, isso mudou.
Uma série feita para o streaming não é reprisada na TV, mas está disponível para milhões e milhões de pessoas ao redor do mundo. Assim, como calcular o valor do trabalho do diretor depois da gravação finalizada? Como fazer com que a categoria receba um pagamento justo pelas obras que fazem sucesso nos streamings?
Entre outros assuntos, a compensação por visualizações em streamings de alcance internacional é o ponto-chave da conversa entre o DGA e AMPTP. Há uma lógica nisso, que cabe também para os roteiristas: se os grandes conglomerados hollywoodianos ganham rios de dinheiro com os streamings no mundo inteiro, nada mais justo do que pagar, adequadamente, a quem trabalhou e foi decisivo na gravação de determinado projeto.
Com a greve dos roteiristas em andamento, completando uma semana, o pessoal da AMPTP tem um pepinaço nas mãos, tendo de lidar com dois sindicatos ao mesmo tempo. Por mais que o DGA seja o mais tranquilo da turma operária em Hollywood, uma greve seria desastrosa, de fato. Porque a indústria iria literalmente parar. Sem diretor, não tem como gravar nada.
No caso da paralisação dos roteiristas, até dá para dar um jeito e tocar o barco, como muitas atrações têm feito neste exato momento, aquelas com os roteiros finalizados, como o caso de A Casa do Dragão. Com os diretores, inexiste um caminho alternativo.
Greve dos atores em Hollywood
O cenário ideal para a AMPTP, que representa os nove maiores estúdios de Hollywood, é resolver logo os impasses com o WGA e DGA, preferencialmente ainda neste mês. Isso porque em junho surgirá outra ameaça de greve, a dos atores.
Presidido por Fran Drescher, estrela da série The Nanny, o sindicato dos atores (SAG) vai começar as negociações com a AMPTP em 7 de junho; o contrato entre as partes também termina dia 30, tal qual o DGA. Publicamente, o SAG tem demonstrado solidariedade ao WGA, dizendo que atores e roteiristas estão no mesmo barco.
Já houve greves de atores ao longo dos anos. A última foi em 1986; e a mais longa se deu em 1980, durante três meses. Atualmente, o SAG tem por volta de 160 mil filiados.
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João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br