CRÍTICA

Makanai: série japonesa baseada em mangá é tesouro perdido na Netflix

Tradição milenar das gueixas ganha um registro imperdível e belo
REPRODUÇÃO/NETFLIX
Nana Mori na série Makanai, drama japonês da Netflix
Nana Mori na série Makanai, drama japonês da Netflix

No meio de tantos lançamentos da Netflix soltos no começo deste ano, a série japonesa Makanai: Cozinhando para A Casa Maiko, se perdeu. É uma pena, pois a atração merece um destaque maior. Trata-se de uma joia a ser achada no catálogo recheado de produções pasteurizadas. O drama inocente, inspirado em um mangá premiado e best-seller, é uma obra de arte para acalmar o espírito e alegrar o coração.

Em nove episódios, Makanai apresenta ao mundo a tradição das gueixas, tão mal relatadas na indústria do entretenimento, que geralmente apenas reforça estereótipos nocivos. Lançada no último dia 12, a produção usa duas adolescentes para entrar nesse mundo misterioso e fascinante, oferecendo um olhar mais próximo da realidade.

Vencedor da Palma de Ouro em Cannes, o diretor Hirokazu Kore-eda trabalhou como showrunner e roteirista do narrativa. Ele usou o mangá ficticio Kiyo in Kyoto como base e fez uma pesquisa de campo extensa conhecendo de perto, na medida do possível, a rotina diária das gueixas, tradição milenar que persiste no Japão. Muita coisa ele não testemunhou, mas ouviu de pessoas próximas, porque certos rituais e lugares são proibidos de serem vistos por pessoas de fora desse universo.

A beleza singela de Makanai

A trama de Makanai: Cozinhando para A Casa Maiko se passa no distrito de gueixas de Kyoto, no qual a protagonista Kiyo (Nana Mori) se torna uma makanai (cozinheira) de uma casa onde as maikos (aprendizes de gueixa) moram juntas. Ali é retratado o cotidiano de Kiyo e sua melhor amiga, Sumire (Natsuki Deguchi).

Depois de se formar no colégio, Kiyo, de 16 anos, deixa a sua cidade natal na zona rural do Japão, Aomori, rumo a Kyoto. Ela embarca com Sumire em uma jornada para realizar um sonho: ser uma bela maiko. 

No entanto, logo Kiyo é informada de que não tem perfil para ser uma maiko, pois é desajeitada, sem conseguir aprender nada. Enquanto isso, Sumire se destaca nas aulas, tornando-se uma maiko impecável.

Natsuki Deguchi em Makanai: Cozinhando para A Casa Maiko
Natsuki Deguchi em Makanai: Cozinhando para A Casa Maiko

Quando está prestes a regressar para Aomori, as habilidades na cozinha de Kiyo são notadas. Ela acaba sendo contratada como makanai, cozinheira que trabalha na casa onde as maikos vivem. 

Makanai encena essa situação com uma beleza singela de se apreciar. A série não tem reviravoltas eletrizantes, dramas exagerados ou segredos revelados de cair o queixo. O que a narrativa tem de forte é a simplicidade de um mundo um tanto distante para a maioria dos espectadores.

A comida, espinha dorsal da atração, exemplifica isso. Os pratos preparados por Kiyo são modestos, em comparação aos realities culinários que se tem por aí. De bolinho de arroz a pudim improvisado, passando por beringela frita, as refeições são feitas com amor e dedicação para as maikos. As imagens apetitosas do preparo, com ótimos ângulos de câmera, são de fazer inveja a O Urso.

O conceito de comida caseira, aquela confortável e que todo mundo gosta, está por trás de Makanai. E esse conforto é atravessado pela tela, causando uma boa sensação a quem assiste.

Coisas mundanas, como ida ao mercado ou tomar um café da manhã, ganham ares refinados em Makanai. A série investe muito nesse caminho de encenar situações triviais do dia a dia e acerta nisso. Envelopando esse ambiente estão histórias de respeito à tradição e amizade sincera.

O público conhece um pouco mais do mundo das gueixas, pelo ponto de vista de garotas ou mulheres mais experientes. A ideia não é ser um guia didático desse mundo; o objetivo da narrativa é outro. Porém, é possível pincelar uma ou outra curiosidade dessa rica tradição japonesa.

No geral, Makanai: Cozinhando para A Casa Maiko é uma excelente escolha para se desconectar do mundo real em quem vivemos ou “se alimentar” de uma série que foge do padrão hollywoodiano, europeu e até mesmo do k-pop. É uma experiência cujo resultado final não traz arrependimento.


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