Novamente a fabricação de séries brasileiras cai no lugar-comum e estereotipado. Desta vez é a Netflix que, segundo informações da coluna de Patrícia Kogut no jornal O Globo, está desenvolvendo uma produção sobre o universo do boxe e do crime organizado. A inserção da bandidagem em tramas nacionais virou banalidade e aponta falta de criatividade.
Enquanto isso, o Prime Video encomendou um drama médico, batizado de Sutura, com potencial para ser bem interessante, a não ser por um detalhe. A base da história apresenta um jovem periférico que sonha em ser doutor. O que poderia ser uma trama positiva e refrescante desemboca no fútil: o protagonista tem envolvimento com o crime.
Voltando à Netflix. Batizada de Academia Delfim, a série em questão é ambientada no Rio de Janeiro. No centro da narrativa está um jovem em ascensão no esporte, chamado de Marcelo, que tem sua trajetória afetada por problemáticas do passado. Ele é encontrado baleado por um professor de boxe. Recuperado, começa a treinar a nobre arte e demonstra ter grande talento.
No caso de Sutura, a ambientação é em São Paulo. O jovem protagonista da história, por causa de ligação com organização criminosa, passa a atender bandidos da tal facção mesmo sem ter diploma de médico.
Em ambos os casos, ao menos a princípio, entende-se uma mensagem errada e desconexa. Em prol da dramaticidade barata, são desperdiçadas chances de promover jornadas de luta contra o sistema, de redenção e superação. Qual a real necessidade de inserir o crime nessas tramas? Qual a mensagem que se quer transmitir com isso?
Tem-se aí a aposta na carta da narrativa criminal, explorada desde sempre na indústria do audiovisual brasileiro.
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João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br