Na última quinta-feira (15), a série Lost (2004-2010) voltou a ficar disponível na Netflix, despertando nostalgia em muitos, incluindo o ator brasileiro Rodrigo Santoro, que esteve presente na terceira temporada da ficção científica cult, aparecendo em sete episódios. A entrada dele em Lost foi curiosa, chegando com o rótulo de “Tom Cruise brasileiro”.
Essa foi a descrição que Santoro ganhou na imprensa americana após o anúncio de sua contratação, divulgado pela tradicional revista TV Guide, em julho de 2006. Showrunners da série, Damon Lindelof e Carlton Cuse falaram com entusiasmo sobre a inserção do galã no elenco. A comparação com Tom Cruise era a mais comum, segundo Lindelof, mas Cuse preferia chamá-lo de “Russell Crowe brasileiro”.
Então, com 30 anos, o ator natural de Petrópolis (RJ) flertava com uma carreira de sucesso internacional. O ano de 2003 foi o ponto da virada. Enquanto brilhava no Brasil na novela Mulheres Apaixonadas (Globo), seu último trabalho nesse formato até uma participação especial em Velho Chico (Globo) uma década depois, Santoro virou uma estrela do cinema.
O principal projeto foi Carandiru, filme no qual viveu a icônica travesti Lady Di, papel que lhe deu o prêmio de melhor ator revelação no prestigiado Festival de Cinema de Cannes. Foi também em 2003 que ele pisou firme em Hollywood com atuações nos longas As Panteras – Detonando e Simplesmente Amor.
“Achamos que ele é um ator incrivelmente talentoso. Ele é um cara perfeito para Lost porque é um rosto com o qual o público americano não está familiarizado, mas ele está no ramo há tempo suficiente. Ele é um ator incrível que fez algumas escolhas realmente interessantes [na carreira]”, comentou Lindelof, em entrevista à TV Guide. Vale ressaltar que, em 2006, Santoro emplacou o marcante papel de Xerxes no filme 300.
Sobre Lost, o ator brasileiro deu sua versão sobre como foi parar na série em bate-papo com o jornal Folha de S.Paulo (agosto de 2006):
“Há mais ou menos dois anos fui convidado para fazer uma participação em outra série, chamada de Alias. E o produtor que fazia essa série e que me convidou na época veio para Lost neste ano. Na ocasião, ele entrou em contato comigo, disse que conhecia meu trabalho em alguns filmes que fiz. Na última vez que estive em Los Angeles, há um mês, fui procurado por ele e começou a história de Lost. Tivemos um encontro, ele me apresentou aos outros produtores-executivos da série. Tivemos dois longos encontros, essa oportunidade apareceu e o interesse foi manifesto.”
Na época, Santoro ainda tinha vínculo com a Globo no nível de exclusividade. Ele explicou o acordo feito: “Meu contrato termina em dezembro. Peguei uma licença não remunerada para fazer esse trabalho [Lost] e aí, quando eu voltar, cumpro esse finalzinho do contrato.”
Foi assinado um contrato de 18 episódios em Lost, mas Rodrigo Santoro só apareceu em sete. No caso, seu personagem, o chef e vigarista Paulo, acabou ficando em segundo plano na narrativa principal e foi descartado, literalmente enterrado vivo.
Em 2014, durante entrevista concedida no Festival de Cinema de Gramado, o ator falou sobre a saída de Lost, dizendo que tudo ocorreu de forma amigável, uma decisão feita em conjunto com os showrunners. Isso serviu para contrapor a percepção nos Estados Unidos de que o fim dado a Paulo foi porque o personagem ganhou dos fãs o selo de reprovação; chegou a ser eleito, pelo site TVLine, como um dos piores personagens de séries populares da história da TV americana.
“Eles [a equipe de Lost] queriam que eu ficasse mais um tempo, mas eu disse que não podia. Então chegamos a uma decisão, superamigável, de que meu personagem seria modificado e teria uma morte sensacional”, disse Santoro. •
João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br