Símbolo do movimento #MeToo, a organização Time’s Up vai encerrar as atividades no final deste mês. O recado está dado na página oficial de entidade, criada há cinco anos para combater a discriminação de gênero e a violência sexual contra as mulheres no ambiente de trabalho. A instituição, formada no início por grandes artistas de Hollywood, não sobreviveu a dois grandes escândalos internos que minaram a credibilidade.
A única coisa boa do Time’s Up, no final das contas, sobreviverá. O fundo criado para ajudar vítimas de qualquer tipo de assédio, não só na indústria do entretenimento, continuará ativo. Segundo a própria organização, a conta tem neste momento US$ 1,7 milhão (R$ 8,85 milhões) destinados à ajudar quem precisa de dinheiro em processos judiciais contra supostos agressores.
O Time’s Up deu sua contribuição. Nesses últimos cinco anos, mais de 330 casos de assédio tiveram o custeio jurídico bancado pela organização, fora a ajuda de consultoria que conectou 6 mil vítimas com advogados especializados nessa área do direito.
Mas os problemas extracampo prevaleceram. Nunca o Time’s Up foi uma entidade sólida nas questões administrativas. O derretimento começou em 2021. Primeiro surgiu uma história envolvendo Esther Cuoco, simplesmente uma das fundadoras. De propósito, ela atrapalhou as revelações de um caso de assédio em uma universidade, localizada no Estado de Oregon (EUA).
Depois disso, ocorreu o caso mais grave. Em agosto de 2021, o jornal Washington Post revelou que a advogada Tina Tchen, a então CEO (diretora-executiva) do grupo, se envolveu no lado errado do escândalo sexual de Andrew Cuomo, ex-governador de Nova York acusado de assediar sexualmente 11 mulheres enquanto estava no comando do Estado americano.
Tina tentou diretamente usar sua influência para impedir que uma nota do movimento fosse divulgada a favor de Lindsey Boylan, ex-assistente de Cuomo e uma das supostas vítimas do político, primeira mulher que o denunciou publicamente.
O Time’s Up, então, optou por um reboot. Limpou a casa e deixou o comando das operações nas mãos da atriz Ashley Judd. A reestruturação não deu certo, culminando no fim das atividades operacionais da organização.
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João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br