Lançada há um mês, a produção britânica Adolescência se consolida como a série mais importante dos 12 anos de história da Netflix. O drama da gigante do streaming simplesmente virou assunto no mundo inteiro, assistida e comentada por pessoas de todas as classes sociais e das mais variadas idades, furando bolhas e pautando a imprensa de modo geral.
Inescapável, Adolescência colocou a população do planeta para refletir sobre como pais, mães, família e sociedade estão cuidando de garotos e garotas na atual era da hiperexposição online, via redes sociais. Temas como bullying, machismo e misoginia passaram a ser pleiteados em todos os cantos, chegando ao ponto de influenciar reportagem de capa da revista Veja, com o título de Rede Perigosa (Tão Perto, Tão Longe).
A Netflix provocou um impacto parecido com Round 6, no último trimestre de 2021. O drama sul-coreano também foi sucesso mundial e colocou na mesa assuntos como violência extremada, capitalismo selvagem e poder cruel das elites. Porém, a profundidade e a intensidade dos debates não foram as mesmas vistas agora com Adolescência.
Médicos, educadores, filósofos, políticos, celebridades… Todo tipo de gente externou algum comentário sobre a minissérie britânica. Quando a fala veio de profissionais da saúde ou do ensino, o objetivo era alertar sobre os perigos reais que o contato com as redes pode causar (algo que influenciou uma grande reportagem do Fantástico, na Globo, por exemplo), com cada um falando pelo seu ponto de vista e experiência na área.
Entre o povão, as conversas se deram por causa da proximidade do tema. Invariavelmente, alguém tem por perto um garoto ou uma garota na faixa etária do protagonista da narrativa (13 anos), tornando mais forte e intensa a identificação com a história ali contada: o menino, chamado de Jamie Miller (Owen Cooper), foi preso por assassinar uma adolescente de sua escola.
Mérito para os roteiristas que, com apenas quatro episódios, pararam o mundo. Não teve cena gratuita ou só para tapar buraco. Cada frame apresentou algo digno de nota. Para detectar isso, basta conversar com uma pessoa sobre a série e perceber que ela vai citar diversas cenas importantes, conectando-as.
Adolescência é mais uma atração que estoura na Netflix sem qualquer pretensão. Antes do lançamento, o que chamava a atenção era o fato de a minissérie ter sido gravada em um plano sequência, “ao vivo”, sem cortes. Para quem fez a minissérie, esse detalhe não foi tão pequeno assim, sendo fundamental na missão de atrair os primeiros espectadores.
Dede Gardner e Jeremy Kleiner, presidentes da produtora Plan B Entertainment, citaram o cineasta/diretor Philip Barantini como o ingrediente essencial do sucesso de Adolescência. “O estilo de Phil foi essencial para a narrativa”, disse Dede, em entrevista ao site Deadline. “Não tem como você olhar para outra coisa e se distrair, perdendo o fio da meada da trama. Sem desviar o olhar, o tema apresentado se firma em você de uma maneira diferente.”
Dede aproveitou para analisar como uma “história aparentemente pequena, local e altamente emocional” conseguiu repercutir em todo o mundo, emocionando gente de todo o tipo. Ela comentou que a violência masculina é um problema social grave, que vem de anos atrás. A produtora, em sua visão, ficou honrada de ter a possibilidade de desvendar essa história e apresentá-la para milhões de pessoas.
Uma das quatro séries mais vistas na Netflix em todos os tempos (entre atrações de língua inglesa), Adolescência naturalmente ganharia uma nova temporada, um sinal verde dado com alegria pela plataforma do tudum. Acontece que a minissérie foi feita para ter uma leva única de episódios.
Entretanto, Dede e Kleiner confirmaram que iniciaram conversas sobre uma possível segunda temporada, que iria explorar uma nova história, “mas fiel ao DNA” do projeto. •

João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br