Uma das melhores e principais séries de heróis dos últimos tempos, Supergirl vai ser removida da Netflix. O aviso está dado na página da atração na plataforma: “Último dia para assistir a este título [é] 9 de março”. Eis, então, uma ótima oportunidade de acompanhar, pela primeira vez ou não, a narrativa militante e inteligente que foi cirúrgica e sagaz ao levantar a bandeira anti-Trump.
Supergirl estreou em outubro de 2015 e terminou em novembro de 2021, após seis temporadas. Quer dizer, pegou o primeiro mandato inteiro de Donald Trump na presidência dos Estados Unidos (2017-2021). As atrocidades que ele propaga, diz e determina (via decretos) atualmente, em sua segunda passagem pela Casa Branca, são iguais ou piores do que fez no final da década passada.
Muitas séries se posicionaram contra Trump, de forma direta ou indireta, durante seu primeiro governo. Supergirl foi a mais eficaz por usar analogias sem perder a acidez da crítica, camuflando na narrativa, sempre com histórias bem amarradas, posições contrárias às do presidente dos EUA. Não houve lacração nem mimimi.
Na ocasião, Trump derrotou Hillary Clinton, ex-primeira dama dos EUA, senadora e secretária de Estado, impedindo assim a chegada de uma mulher no posto mais importante da geopolítica mundial. No mundo de Kara Danvers, porém, uma mulher assumiu a Presidência do país, personagem interpretada por Lynda Carter, a Mulher-Maravilha da clássica série homônima dos anos 1970.
Naquele tempo, Trump já fazia cruzadas intolerantes e raivosas contra as pessoas trans. Então, Supergirl introduziu Nia Nal/Sonhadora (Nicole Maines), a primeira heroína transgênero da história da TV americana.
Supergirl ficou marcada por abrir as portas para a diversidade, equidade e inclusão, três termos que fazem Trump arrepiar os cabelos. Nesse ponto, a série nunca deixou de dar espaço para pessoas da comunidade LGBTQIA+, tendo como elo mais forte a agente Alex Danvers (Chyler Leigh), lésbica com uma bela jornada que, literalmente, salvou vidas de muitas garotas e jovens.
Entre tantos aspectos progressistas, um dos mais interessantes e importantes foi como tratou a questão da imigração nos EUA. Supergirl mandou bem ao falar disso em um arco narrativo no qual os aliens passaram a ser tratados como forasteiros em território americano (e em outras partes do mundo), vivendo isolados, sendo alvos de ataques de ódio e, por muitas vezes, tendo de esconder a verdadeira identidade e tradições para serem aceitos.
Lá no primeiro mandato, Trump aplicou leis severas de regularização de imigrantes, situação muito bem copiada por Supergirl nesse ponto da série, inspiração que veio em forma de crítica.
Curiosamente, a mulher presidente vivida por Lynda Carter, Olivia Marsdin, era uma alienígena na Casa Branca, comandando a nação mais poderosa da Terra; uma forasteira igual à jornalista Kara Danvers/Supergirl. •
João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br