ACORDO ESCUSO

Série da Netflix mostra como governo usa a religião para controlar o povo

'Em todo lugar só tem farsantes, mas uma farsa digna é um pouquinho melhor'
DIVULGAÇÃO/NETFLIX
Lee Dong-hee na 2ª temporada de Profecia do Inferno
Lee Dong-hee na 2ª temporada de Profecia do Inferno

Série sul-coreana provocante, Profecia do Inferno (Netflix) retornou com uma segunda temporada audaciosa. A narrativa não mede palavras para descortinar algo que ocorre no mundo real a todo o instante, revelando como o governo de um país necessita da religião para controlar a sociedade, tudo a favor da lei e da ordem.

Esse tipo de manipulação é retratada claramente no k-drama sobrenatural, no qual criaturas do além surgem do nada para condenar pessoas ao inferno. Esses eventos sobrenaturais geram o caos e turbinam o crescimento do grupo religioso A Nova Verdade, que se aproveita dessas manifestações para impor o medo, alegando que apenas os pecadores são condenados. Segundo eles, o decreto infernal representa a vontade divina de levar a virtude aos seres humanos.

Porém, um grupo sectário da Nova Verdade, chamado de Arrowhead, ganha mais força perante a população e toma conta da mente dos sul-coreanos. Radicais ao extremo, os seguidores dessa facção tocam o terror e ignoram o sistema jurídico na base da anarquia.

Daí surge o governo político. Lee Sugyeong (Moon So-ri), secretária da Presidência do país, entra em contato com o chefe da Nova Verdade para colocar ordem na casa. Ela sabe muito bem que a pregação da Nova Verdade é balela, entretanto… “Em todo lugar só tem farsantes”, diz, em conversa com Kim (Lee Dong-hee), o presidente do grupo religioso. “Porém, uma farsa digna, como a Nova Verdade, é um pouquinho melhor.”

A parceria ocorre porque o governo cada dia mais perde poder e influência. O que impera é a era da religião. Portanto, o executivo da nação sul-coreana tomou a atitude de se misturar com uma vertente religiosa moderada para sobrepor os anarquistas da Arrowhead. “A gente precisa fazer esse mundo voltar a ter leis”, esclarece Sugyeong.

O receio é que os sectários da Arrowhead entrem de fato no sistema político nas próximas eleições. A Presidência quer os afastar e manter algum nível de controle. O objetivo do governo é fazer com que o povo volte a agir dentro de princípios éticos religiosos, de obediência e bom comportamento, cercados de regras e doutrinas. Caso contrário, a estrutura da sociedade ruirá.

No alvo está a criação de mandamentos de uma religião reformada. Por isso, o governo determina que A Nova Verdade passa a se chamar A Nova Doutrina, com regras atualizadas para a população obedecer e andar na linha, tendo medo de pecar e ganhar uma passagem para a condenação eterna no inferno. E, claro, colocar o selo de herege na seita Arrowhead.

Ao apresentar o plano de reformulação de marca, o religioso Kim clama: “Que A Nova Doutrina ilumine a humanidade, trazendo um entendimento da vontade de Deus. Que as pessoas se inspirem a adotar atitudes virtuosas e abraçar a retidão.”

Profecia do Inferno é bastante precisa no desenrolar desse assunto ao longo da segunda temporada. Na primeira leva, o foco foi em temas como justiça divina e condenação eterna. Agora, é exposto com exatidão o entrelaçamento tão antigo entre Estado e Igreja, seja sob a luz ou às escondidas. Como a história ensina, apenas um povo mal-informado e sem pensamento crítico cai nessa armadilha.

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