Desde domingo (26) está disponível, no Star+, a minissérie Bem-Vindos à Austrália, uma versão repaginada e estendida do longa Austrália, de 2008, assinado pelo cineasta Baz Luhrmann, que tem em seu currículo dois trabalhos indicados ao Oscar de melhor filme (Moulin Rouge! e Elvis). A essência da trama é a mesma, mas o ponto de vista muda um tanto. Lideram a história os atores Nicole Kidman e Hugh Jackman; Luhrmann e Jackman são australianos, já Nicole é cidadã da Austrália, pois os pais dela nasceram lá.
A principal pergunta é: por que revisitar um filme de 15 anos atrás? Ainda mais pelo fato de não ser um dos mais badalados de Luhrmann. Embora o projeto tenha custado caro (US$ 130 milhões) e sofrido com avaliações negativas, a arrecadação de bilheteria, na casa dos US$ 162 milhões em todo o mundo, gerou um bom lucro. A reedição de Austrália foi para Luhrmann matar o tempo durante a pandemia de Covid-19, missão encarada como um experimento.
O cineasta pegou o material bruto das gravações da película e notou que era possível fazer uma história dividida em capítulos (seis), tendo aqueles finais com ganchos (em suspense) tão característicos das séries. Foram analisados 762 mil metros de filme, que rendeu o longa-metragem com duração de 165 minutos (2 horas e 45 minutos). A minissérie conta com quase uma hora de imagens extras que foram cortadas da versão do cinema.
Nenhuma cena nova foi adicionada. O que Baz Luhrmann precisou fazer a mais foi chamar Nicole Kidman e Hugh Jackman para regravar alguns diálogos das cenas que não estão no filme.
O cineasta também contratou um novo time musical para produzir outra trilha sonora. Ele ainda chamou um estúdio de arte gráfica para criar uma nova abertura. Essas duas novidades foram tocadas por profissionais aborígenes, como são chamados os indígenas da Austrália.
A premissa do filme Austrália está no centro da minissérie Bem-Vindos à Austrália. São duas diferenças básicas: a narrativa busca expor ainda mais a perspectiva aborígine da história; e o final é diferente, desfecho esse que foi filmado lá atrás e recuperado por Luhrmann.
Brandon Walters na minissérie Bem-Vindos à Austrália
A trama de Bem-Vindos à Austrália
Não houve modificação na espinha dorsal do enredo. Ambientada entre 1939 e 1942 (em plena Segunda Guerra Mundial), a minissérie acompanha a aristocrata inglesa Lady Sarah Ashley (Nicole Kidman), que cruza o mundo para enfrentar seu marido rebelde e vender um bem incomum: uma fazenda de gado de 400 mil hectares no Outback australiano, local chamado de Faraway Downs (o nome da fazenda é o título da minissérie em inglês).
Após a morte de seu marido, um cruel barão do gado australiano, King Carney (Bryan Brown), planeja tomar suas terras. Relutantemente, ela se junta a um tropeiro de gado, que atende pelo nome de Vaqueiro (Hugh Jackman), para proteger o rancho.
O arrebatador romance de aventura é contado pelos olhos do jovem Nullah (o novato Brandon Walters), uma criança birracial indígena australiana envolvida na draconiana política racial do governo, hoje conhecida como Gerações Roubadas.
Juntos, o trio vivencia quatro anos que mudam suas vidas, um caso de amor entre Lady Ashley e Drover, e o impacto inevitável da Segunda Guerra Mundial no norte da Austrália
Baz Luhrmann fez uma adição importante no começo de cada episódio. Um aviso trata sobre o respeito ao povo originário australiano, oferecendo um agradecimento a essa população que é escanteada no país da Oceania.
Há também um alerta sobre “imagens, vozes e trabalho de arte de pessoas mortas”. Isso porque a tradição aborígine é nunca falar o nome de uma pessoa após a morte dela. Nesses 15 anos desde o lançamento do filme, alguns indígenas envolvidos com a produção, à frente e atrás das câmeras, morreram.
João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br
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