Lançado na última quinta-feira (10), o episódio Pessoas Comuns, o primeiro da sétima temporada de Black Mirror, já está sendo considerado um dos melhores de toda a série, top 10 ao menos. Uma das razões por trás disso é a crítica sagaz e ácida sobre o atual cenário das plataformas de streamings e, de tabela, de outros serviços de assinaturas aos quais todos estamos vinculados, invariavelmente, incluindo planos de saúde.
O mais curioso é que a sátira apresentada cutuca a própria Netflix, de forma indireta, o que só aumenta o crédito da plataforma do tudum no quesito liberdade criativa, permitindo ao criador e roteirista da trama, Charlie Brooker, fazer zombaria total sem qualquer intervenção, sem ameaça de censura.
No núcleo de Pessoas Comuns está um serviço de assinatura/streaming que surgiu para salvar a vida de pessoas com doenças cerebrais. Porém, são várias as contrapartidas, de aumento de preço (o plano comum vira plus, que depois vira premium, que depois vira ‘lux’) a pacote com anúncios (para se livrar dele precisa dar um upgrade na assinatura). Exatamente o que a Netflix passou a aplicar recentemente.
A primeira faísca da ideia por trás do episódio surgiu da seguinte pergunta: “E se alguém precisasse de um serviço de assinatura para viver?”, comentou Brooker, em entrevista à Netflix.
Essa base ganhou força quando ele passou a prestar atenção em certos comportamentos de apresentadores de podcasts, principalmente aqueles de true crime. De repente, eles dão uma pausa bem quando estão falando de um banho de sangue para fazer uma propaganda específica, muitas vezes usando o mesmo tom de voz, misturando uma coisa com a outra.
“Essa parte dos anúncios veio de um lugar engraçado”, explicou o showrunner. “Eu passei a perceber que apresentadores de podcasts interrompiam o programa meio que do nada. Daí, começavam a vender produtos e tudo mais. E, depois, voltavam ao podcast normalmente, como se nada tivesse acontecido no meio do caminho. Pensei: ‘Isso vai ser engraçado’.”
Na concepção de Pessoas Comuns, a história teria contornos cômicos até o final. Mas, durante o processo de roteirização, Brooker sentiu que a trama pendia para uma conclusão mais macabra. Ele afirmou que o desfecho foi “perfeitamente sombrio, perfeitamente Black Mirror”, dadas as circunstâncias.
Estrelado por Chris O’Dowd, Rashida Jones e Tracee Ellis Ross, Pessoas Comuns traz um enredo tenebroso. Quando uma emergência médica deixa a professora Amanda (Rashida) lutando por sua vida, seu desesperado marido Mike (O’Dowd) a inscreve no Rivermind, um sistema de alta tecnologia que a manterá viva; mas a um custo. •

João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br