A segunda temporada de Round 6, lançada nesta quinta-feira (26) pela Netflix, introduz uma personagem trans na história. Enquanto ajuda a aumentar e a melhorar a representatividade LGBTQIA+ em séries sul-coreanas, o drama sensação gerou controvérsia por escalar um ator cisgênero para esse papel; cis é quem se identifica com o sexo que lhe foi atribuído ao nascer. Quando, em uma situação ideal, uma mulher trans deveria ter sido contratada para viver a personagem.
O cineasta Hwang Dong-hyuk, criador e faz-tudo de Round, ofereceu uma explicação plausível sobre o motivo de ter escalado o ator Park Sung-hoon, de A Lição e Rainha das Lágrimas, para interpretar a jogadora número 120, chamada de Hyun-ju. A personagem aceita entrar na competição letal na esperança de ganhar dinheiro suficiente visando completar sua transição de gênero.
Ciente do que estaria por vir, Hwang esperava uma reação ruidosa sobre essa escalação. Entretanto, duas barreiras foram impossíveis de serem ultrapassadas durante o desenvolvimento de Hyun-ju. Não foram encontradas atrizes coreanas trans para participar do processo de testes de elenco, nem atores homossexuais.
“No começo, quando começamos a fazer nossa pesquisa, o objetivo era fazer um casting autêntico com uma pessoa trans”, disse o diretor e roteirista de Round 6, em entrevista ao site TV Guide. “Porém, na Coreia do Sul, não há quase nenhum ator ou atriz que seja abertamente trans, muito menos assumidamente gay. Isso pelo fato de, infelizmente, na sociedade coreana atual, a comunidade LGBTQIA+ ainda ser marginalizada e negligenciada, o que é de partir o coração.”
“Foi impossível encontrar alguém que pudéssemos escalar autenticamente para esse papel”, continuou Hwang. “E isso nos levou à decisão de escalar Sung-hoon”. O cineasta conhece o ator há muito tempo, famoso por atuar em vários k-dramas de sucesso internacional. “Eu o acompanho desde os seus primeiros passos na atuação”, falou o diretor sobre Sung-hoon. “Minha confiança nele é total, a pessoa certa em termos de talento para interpretar essa personagem.”
Exemplos de trans em séries sul-coreanas são escassos. É um reflexo do funcionamento da sociedade local. Os direitos da comunidade LGBTQIA+ são poucos, em comparação a países do Ocidente. Na Coreia do Sul, por exemplo, não é legalizado o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Recentemente, a Suprema Corte coreana decretou que casais do mesmo sexo podem receber os mesmos benefícios de seguro saúde permitidos a casais heterossexuais, medida apontada como uma vitória histórica na busca pela igualdade e pelos direitos humanos no país. •
João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br