A segunda temporada de Bel-Air, lançada no último dia 31 no Star+, prova que a atuação hipnotizante de Olly Sholotan na leva de estreia não foi sorte de principiante. Em seu primeiro grande papel como ator, o jovem de 25 anos rouba a cena na versão dramática de Um Maluco no Pedaço, dando um novo significado ao playboy Carlton Banks, eternizado por Alfonso Ribeiro na sitcom clássica.
Bel-Air apresentou mudanças drásticas dos personagens amados de Um Maluco no Pedaço; decisão correta, diga-se de passagem. Carlton encabeça a lista daqueles que mais tiveram suas jornadas alteradas. O papel acabou ficando bastante delicado e complexo, e Sholotan tirou de letra a missão, sendo o grande destaque da nova série, o motivo principal de ser realmente um drama, bem distante daquela comédia gostosa de assistir.
Em Um Maluco no Pedaço, Carlton tinha traços enigmáticos, mas não eram aprofundados com esmero, muitas vezes usados como alívio cômico. Se destacava a postura que tinha mais alinhada ao estilo de vida de um branco rico, por ter nascido em berço de ouro, evidenciado no linguajar, jeito de se vestir e visão política do mundo. O que era necessário para a narrativa da comédia, contrastando com o ponto de vista do primo Will (Will Smith), seu oposto.
Carlton é um atleta de lacrosse em Bel-Air, esporte esse que é predominantemente praticado por brancos. Na escola, o filho do meio dos Banks é muito popular por se sobressair no esporte e no círculo acadêmico. Essa é a vitrine de sua personalidade. No fundo, ele esconde um mundo sombrio.
É nesse ponto que Olly Sholotan brilha, encarnando um dos personagens mais difíceis de Bel-Air. Ele tem de sorrir para todos ao seu redor, mostrar que está bem, pela reputação que tem a zelar. Mas ele esconde sentimentos pesados, que deixam o Carlton infantilizado de Alfonso Ribeiro a anos luz de distância.
O outro lado da personalidade de Carlton, em Bel-Air, é escuro. Lá transita um jovem sob muita pressão dos pais (e indiretamente da sociedade) para ser bem-sucedido. O estudante notável e craque no esporte sofre de ansiedade severa, o que culmina em um vício de drogas, comportamento que pode minar o seu futuro.
Sholotan consegue, como poucos, mostrar ao público como um jovem dentro do contexto social de Carlton vive. O telespectador mais sensível consegue sentir na pele as angústias do personagem, a ponto de sentir tristeza ao vê-lo sorrir em público, pois sabe que esse é um mecanismo para ocultar a tristeza que habita dentro de si.
O Carlton de Bel-Air é a expressão precisa de que ali se trata de um drama mesmo, não é comédia. Na primeira temporada, houve até um exagero na carga dramática despejada no personagem. No segundo ano, isso foi corrigido e chegou-se a um equilíbrio muito bem-vindo e mais apropriado.
Hollywood tem de prestar mais atenção em Olly Sholotan. Eis aí um grande talento da nova geração.
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João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br