O Globoplay lança, na quinta-feira (12), seu primeiro dorama exclusivo do catálogo: O Mundo dos Casados. Exibida originalmente na Coreia do Sul em 2020, a série foi classificada como proibida para menores (selo +19). A restrição não foi por causa, necessariamente, de cenas de sexo e violência (embora elas existam ao longo dos episódios). O motivo foi outro.
Mo Wan-il, cineasta que dirigiu todos os 16 capítulos de O Mundo dos Casados, explicou o que aconteceu para o dorama receber essa classificação. “É uma história sobre um casal, e o cenário geral do drama não poderia ser tratado levianamente”, disse, na entrevista coletiva de apresentação da série. “A classificação não foi dada com base na violência ou nos elementos sexuais, mas porque a representação dos atores [na vida de casado] foi muito realista, as cenas pareciam mais tensas e graves. Decidimos não nos limitar e realmente ir direto ao ponto ao retratar as emoções reais desse tipo de relacionamento.”
Na trama, Ji Sun-woo (Kim Hee-ae) é uma médica reverenciada que acredita ter uma vida perfeita… até descobrir a traição do marido, Lee Tae-oh (Park Hae-joon), com uma mulher mais jovem. Devastada, ela embarca em uma busca por vingança, desvendando segredos e mentiras.
O Mundo dos Casados fez história na Coreia do Sul, estabelecendo a maior audiência de todos os tempos na TV paga (atração do canal JTBC). A série gerou muitos debates por conta de suas controvérsias, tudo dependendo do ponto de vista.
Uma determinada cena de violência, recorrendo a uma perspectiva detalhada em primeira pessoa, foi considerada muito agressiva para uma atração televisiva, podendo servir de gatilho traumático para quem passou por algo parecido. Porém, muitos telespectadores acharam que o trabalho de câmera e toda a encenação experimental foi bastante revigorante, entregando um momento incomum em doramas.
Sempre é importante ressaltar que, para os padrões coreanos, qualquer mínima cena de violência ou sexo/nudez é sensível. A TV reflete a visão de boa parte da sociedade nesses temas. Até por isso que, em vários k-dramas policiais, armas raramente aparecem, mesmo as mais simples. E é nessa onda que Round 6 (Netflix), por exemplo, ousa ao mostrar uma hiperviolência para tecer críticas ao capitalismo e expor problemas sociais.
Da mesma forma, no quesito sexo, uma mera insinuação de prazer carnal usado como moeda de troca de favores é vista com ressalvas. O Mundo dos Casados passou por isso, criticada pela Comissão de Padrões de Comunicação da Coreia, órgão governamental que regula a mídia do país. A instituição sugeriu que medidas fossem tomadas para coibir o que fora considerado conteúdo inapropriado para a TV sul-coreana, por transmitir uma mensagem degradante sobre as mulheres.
Teve quem apoiou tal cena, por ser nada mais do que um retrato da realidade, argumentando que a TV do país deveria permitir ousadias do tipo. Nem o canal JTBC, nem a série sofreram censura ou penalidade, mas o comitê emitiu uma advertência.
O Mundo dos Casados é uma adaptação de Doctor Foster (2015-2017), drama britânico da BBC que já esteve disponível na Netflix brasileira. •
João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br
