Uma história absurda, violenta e aterrorizante, que expõe a podridão do capitalismo enquanto faz uma crítica social pertinente. Nova série disponível no Paramount+, o k-drama Barganha explora essa premissa assim como bem fez Round 6, o grande fenômeno da Netflix. Embora Barganha dificilmente chegará perto de Round 6 no quesito alcance global e influência na cultura pop, é a série que mais se aproxima no conceito.
Diferentemente dos estúdios hollywoodianos e internacionais que desde 2019 tentam emplacar a nova Game of Thrones, é curioso notar que poucos, ou quase ninguém, se arriscou a fazer uma atração tipo Round 6. Com Barganha, a comparação é justa devido à essência, por ser algo bastante original e único.
A insanidade está por todos os lados nos seis episódios curtos de Barganha, em torno de 35 minutos de cena/cada. Há uma razão de tanta concisão, na questão do tempo e quantidade de episódios: é muita brida, drama, ação e narrativas densas. Mais do que foi entregue, seria além da conta.
Quando o telespectador começa a acompanhar Barganha, ele vê apenas dois personagens conversando em um hotel (registro feito por uma única câmera, praticamente um longo plano sequência).
No caso, a jovem Park Joo Young (Jun Jong-seo) entrou em um acordo com um homem chamado Noh Hyung Soo (Jin Seon-kyu), via aplicativo de celular, para fechar um negócio surreal: sua virgindade em troca de mil dólares.
Na verdade, Joo Young não é uma garota inocente virgem que está no último ano do ensino médio. Ela faz parte de uma organização criminosa que atrai homens para serem sequestrados e mortos. O objetivo disso? Vender os órgãos da vítima.
Nesse ponto, Barganha aplica um mix de absurdo, bom humor e acidez. É a própria Joo Young quem faz o leilão dos órgãos de Soo, a começar pelos rins. E é um leilão mesmo, com várias pessoas dando lances na base do quem-paga-mais-leva.
Como visto, a operação é antiga, inclusive com clientes que vão aos leilões com frequência. Muitos do que ali estão, contudo, apostam suas últimas fichas, pois à sua frente está talvez a tentativa derradeira de salvar uma pessoa querida que precisa de um órgão urgente, sem chance de obtê-lo por meios legais, seja na rede de saúde paga ou privada da Coreia do Sul.
Muito mais inteligente e perspicaz do que Round 6 nesta raia, Barganha faz uma alegoria macabra sobre como a elite usa as pessoas mais desfavorecidas como presa, elas que são uma peça no tabuleiro ou nada mais do que um obstáculo no meio do caminho. Tratar disso usando como pano de fundo a mais crua natureza biológica humana é fascinante e ousado.
A produção do Paramount+, primeira série coreana premiada no prestigiado festival de Cannes, flerta com um reality show de sobrevivência após um terremoto atingir o hotel onde os personagens estão, envolvidos eles diretamente ou não com o tráfico de órgãos. A mesma crítica social e contra o capitalismo ganha outros tons nessa fase da narrativa.
É tudo como se fosse em tempo real, com uma única câmera acompanhando as cenas de muito perto. Depois do desastre, os protagonistas tentam por cerca de duas horas e meia escapar dali. Entra em campo questões morais e buscas por justificativas furadas para legitimar alguns atos antiéticos ou fora da lei.
Barganha é uma série incrível. A tentação de maratonar, de ver um episódio atrás do outro de forma enlouquecida, deve ser vencida. O k-drama, com certeza, é melhor aproveitado e absorvido em doses mais controladas, aos poucos.
Sériecandidata a ser uma das melhores do ano, Barganha tem elementos padrões que movem o enredo, claro. Vale ficar atento às motivações dos personagens, pois é praticamente impossível apontar quem é o vilão, quem é o herói, quem é a vítima… Esse jogo de adivinhação é bem atrativo.
O certo é que, ao contrário de Round 6, provavelmente você não vai achar ninguém para torcer. Não há inocentes naquele prédio.
João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br
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