A Netflix resgatou uma das séries mais raras da TV dos anos 1980. Já está disponível a sitcom Um Mundo Diferente (1987-1993), spin-off da lendária comédia The Cosby Show (1984-1992). O enredo segue os passos de Denise Huxtable (Lisa Bonet), personagem que faz conexão com a atração matriz, durante o começo da juventude adulta, mostrando a rotina de estudantes da Universidade Hillman, faculdade fictícia criada para sintetizar como funciona a dinâmica em uma universidade americana de raiz preta, tendo como inspiração histórias reais.
Nos Estados Unidos, Um Mundo Diferente fez história por destacar, em seis temporadas na TV aberta, jovens pretos estudando em uma universidade voltada para eles. Por lá, devido à discriminação e segregação oficial que assombrou a sociedade de vários Estados durante o século 19 e 20, faculdades foram erguidas para abrigar alunos de cor que eram proibidos de se matricular em “universidades de brancos”.
Um Mundo Diferente começa com Denise, a segunda filha da família Huxtable vista em The Cosby Show, entrando na Universidade Hillman. O foco da narrativa era mostrar as experiências de um conjunto diversificado de estudantes de graduação, descobrindo quem eles são dentro de um mundo complexo e em rápida mudança.
Nos bastidores, uma polêmica tirou Lisa Bonet da série após a primeira temporada. Em meados de 1988, ela anunciou que estava grávida do marido Lenny Kravitz. A lendária atriz/produtora/diretora Debbie Allen (a Catherine Avery de Grey’s Anatomy), que tinha certo poder criativo na série, queria incorporar a gravidez nos episódios. Mas outra palavra pesou contra.
O comediante Bill Cosby era, de fato, o criador de Um Mundo Diferente e tinha o voto final. Ele disse que a personagem Denise não poderia aparecer grávida. Em sua visão, o público não aceitaria Denise como mãe solo porque ela tinha o rótulo de “boa menina” devido aos tempos em The Cosby Show.
Assim, Lisa Bonet simplesmente deixou Um Mundo Diferente e nunca mais retornou. Dali em diante, a trama centralizou-se em outros personagens: a bela Whitley Gilbert (Jasmine Guy), o gênio da matemática Dwayne Cleofis Wayne (Kadeem Hardison) e seu melhor amigo, Ron Johnson (Darryl M. Bell), o ativista estudantil Freddie Brooks (Summer), a estudiosa Kimberly Reese (Charnele Brown), a responsável Jaleesa Vinson (Dawnn Lewis), o professor de matemática e instrutor Coronel Bradford Taylor (Glynn Turman) e o dono do restaurante do campus, Vernon Gaines (Lou Myers).
Esse grupo de personagens tão diversificados, de origens e idades sortidas, fez com que todo tipo de espectador se identificasse com Um Mundo Diferente, colocando a série entre as mais vistas da TV americana durante sua exibição original. Durante as primeiras quatro temporadas, sempre foi top 5 no ibope geral, contando todos os programas exibidos no horário nobre, sendo a vice-líder no primeiro ano.
Os universitários da Hillman eram bem ativos, participando de cursos, clubes e outros tipos de atividades, simulando acontecimentos do mundo real. Temas sérios foram abordados ao longo dos 144 episódios, como segregação racial, HIV/AIDS, violência doméstica, consentimento nas relações amorosas/sexuais, brutalidade policial, entre outros.
Debbie Allen é creditada como a pessoa que fez Um Mundo Diferente ter uma identidade única na TV. Ela, que estudou em uma universidade preta (Howard), inseriu vivências verdadeiras desse ambiente. E sempre levava os roteiristas para passarem um tempo nas mais diferentes universidades pretas com o intuito de retratar a autenticidade desse universo. •
João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br