Sem entrar em acordo com a entidade patronal que representa os nove maiores estúdios de Hollywood (a AMPTP), o sindicato dos roteiristas (WGA) decretou greve, em vigor a partir desta terça-feira (2), logo após o término do atual contrato válido pelos últimos três anos. A paralisação é por tempo indeterminado, e ambos os lados ainda não marcaram uma data para retomar as negociações visando o fim da greve.
Os cerca de 20 mil roteiristas filiados cruzam os braços imediatamente. Ou seja, todas as séries atualmente em desenvolvimento serão interrompidas. Quanto maior for a duração da greve, logicamente, maior será o atraso no lançamento de novas atrações ou estreias de produções novatas.
Para ilustrar bem o impacto da suspensão dos trabalhos, o primeiro tipo de programa da TV americana afetado é o talk show, tipo aqueles apresentados por Jimmy Fallon e Stephen Colbert. Como são atrações que precisam do labor diário dos roteiristas, que escrevem piadas se baseando nas notícias quentes do dia, não haverá edições inéditas exibidas.
A segunda peça de dominó a cair é das séries da TV aberta. O meio do ano, entre maio e julho, é quando as comédias e dramas a serem exibidos na fall season (de setembro a novembro) são desenvolvidos e gravados. Se a greve durar pouco, produções da ABC, CBS, Fox, NBC e The CW vão seguir o cronograma padrão. Caso contrário, as novas temporadas serão adiadas.
Isso pode atingir séries como Grey’s Anatomy, Abbott Elementary, The Equalizer… E as franquias Chicago, FBI, Law & Order, NCIS…
Prevendo a greve, as emissoras anteciparam renovações de algumas séries para gravar com antecedência novos episódios, tendo assim algo para exibir se a situação piorar com o passar dos dias. A NBC, por exemplo, tem na gaveta novos episódios da comédia Night Court e do drama La Brea, cujas próximas temporadas foram gravadas, sem descanso, coladas com as anteriores.
Para os streamings, a situação é um pouco mais confortável. O estoque de séries das plataformas é bem maior do que os das TVs abertas, o que resulta em uma tranquilidade para montar a programação de lançamentos mesmo durante a greve. Veja o que disse Ted Sarandos, co-CEO da Netflix, sobre o status da gigante do streaming neste momento.
“Nós temos uma base bem grande de séries inéditas [e novas temporadas], isso ao redor do mundo. Muito provavelmente, vamos poder atender o desejo de nossos assinantes [por conteúdo novo] melhor do que a concorrência. Nós fizemos planos visando o pior cenário possível [greve] e temos uma robusta agenda de lançamentos que nos levará longe.”
Pensando em uma extensão da greve por muito tempo, a Netflix pode abrir uma exceção e mudar o esquema de lançamento de novas atrações, com um episódio por semana ao invés de soltar tudo de uma vez só. Isso para “esticar” o calendário, não gastando o estoque rapidamente.
A última greve do WGA foi na temporada 2007 e 2008; durou cem dias. Naquela ocasião, para preencher a grade da programação sem episódios novos de séries, as emissoras investiram em realities shows. Em 1988, a paralisação durou 153 dias. E, três anos antes, a greve foi curta, de duas semanas.
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João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br