É possível pinçar vários destaques do elenco de Os Outros, nova série nacional sensação no Globoplay. Milhem Cortaz está entre eles. O ator de 51 anos tem um dos papéis mais complexos e crus da trama, na pele do inconsequente Wando. De alguma forma ou de outra, Cortaz confessa ter semelhanças com o personagem que defende, conforme dito em entrevista à coluna de Patrícia Kogut, no jornal O Globo.
“Eu me vejo nele [Wando] no fato de ter razão e perder a razão pela forma como se coloca”, explicou o ator paulistano. “Isso para mim foi um tapa na cara, porque é onde eu mais erro. Fui obrigado a me enxergar mais do que me enxergo diariamente, a me expor dessa forma tão íntima”.
Wando começa a trama como vendedor de carros relativamente bem-sucedido, capaz de bancar a família e morar em um apartamento localizado em condomínio de alto padrão na Barra da Tijuca, bairro nobre do Rio de Janeiro. A vida dele entra em espiral após perder o emprego e se envolver em briga violenta e de proporção escatológica com a vizinha Cibele, interpretada por Adriana Esteves.
O personagem age sem pensar muito nas consequências, tomando decisões por impulso. Irado, perde o controle muitas vezes, chegando a ser violento com a mulher, Mila (Maeve Jinkings). Ele, porém, faz uma ponderação importante ao refletir sobre esse papel: “Não tenho a agressividade dele.”
Cortaz contou que, ao ler os primeiros episódios de Os Outros, teve medo de a emoção do personagem ser mais forte do que a técnica. “Quando é muito real, quando não tem o lúdico, quando é muito particular, não é arte. Aí é terapia, é outra coisa. Não funciona como arte”, pontuou.
Essa pitada do real no personagem mexeu com Cortaz pelo fato de não parecer, necessariamente, uma atuação: “Eu tinha medo de não virar arte, mas, de alguma forma, consegui colocar uma lente de aumento e fazer um olhar mais artístico.”
Toda essa construção complexa de Wando resultou em atuação estupenda. Acabou gerando um personagem que mudou a carreira de Cortaz:
“É o trabalho mais difícil que já fiz na televisão e um dos trabalhos mais difíceis da minha vida. Falar desse cara é de uma importância gigantesca para a sociedade e também para mim. Aprendi muito com o Wando.”
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