
Da Netflix ao Prime Video, qualquer plataforma de streaming passa aperto na hora de fechar o orçamento de uma nova produção. Não se engane pelo preço exorbitante que cobram nas mensalidades, nem pela montanha de dinheiro que recebem do mercado publicitário via os famigerados planos com anúncios. Esses serviços estão no modo contenção de gastos, resultando em menos séries lançadas e em atrações com narrativas simples.
A tendência é que produções procedurais, aquelas do ‘caso do episódio’, como Plantão Policial (Prime Video), The Pitt (Max) e Pulso (Netflix), se tornem mais comuns. São os streamings copiando o modelo hollywoodiano de fazer TV, que com uma fórmula básica entregou ao mundo séries atemporais de enorme sucesso, como famosos dramas policiais (tipo NCIS), médicos (Grey’s Anatomy) e jurídicos.
Pinçando o caso de Plantão Policial, foi o Prime Video cedendo lugar para a produtora de Dick Wolf, showrunner que é o rei dos dramas procedurais (franquias Chicago e Law & Order). Com Pulso, a Netflix tem sua primeira série médica nesse formato em seus 12 anos no mundo da criação de conteúdo; e vem aí na gigante do streaming Pain & Suffering, trama policial no mesmo molde.
Atrações desse naipe saem muito mais em conta do que fazer séries refinadas, como Bridgerton (Netflix) ou A Roda do Tempo (Prime Video). O aumento nos custos de produção é real, mas não quer dizer necessariamente que os streamings vão deixar de investir em dramas prestigiados. Acontece que eles vêm em menor quantidade do que no passado nem tão distante, tendo sua prioridade diminuída.
“Você está recebendo menos séries pelo mesmo dinheiro [pago via mensalidades]”, explicou Guy Bisson, pesquisador da firma Ampere Analysis, em entrevista ao site The Hollywood Reporter. “Os gastos estão baixos e continuarão baixos”, completou. Ele revelou que a queda em relação à nova encomenda de atrações, globalmente, bate na casa dos 25%, comparado com os altos números fora da curva de três anos atrás.
“Não vamos voltar ao tempo da TV no Auge”, afirmou, referindo-se ao período, entre meados da década passada e o início dos anos 2020, no qual os conglomerados de Hollywood não hesitavam em gastar rios de dinheiro para lançar séries grandiosas, em parte de olho em novos assinantes para suas respectivas plataformas.
“Atualmente, as plataformas adotam uma estratégia diferente, investindo mais em direitos esportivos, produções de realities shows e séries procedurais, deixando uma fatia pequena do orçamento para produções de ponta.”
O comportamento de streamings, seja Netflix ou Max, é cada vez mais se aproximar da estrutura tradicional de uma TV aberta americana, considerando a boa aceitação dos pacotes com propaganda.
Dramas elaborados e de excelência, como Ripley (Netflix), vão ser raros. Ocupam esse lugar atrações menos custosas e descomplicadas de serem realizadas, como séries policiais, tipo Detetive Alex Cross (Prime Video), ou tramas jurídicas, pegando o exemplo de O Poder e a Lei (Netflix). •

João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br