No seu segundo ano investindo em produções originais, a Netflix mirou nas alturas. Com orçamento robusto, menor apenas do que Game of Thrones, a gigante do streaming lançou, em 12 de dezembro de 2014, a ambiciosa Marco Polo, feita para ser uma série arrebatadora, visando conquistas de prêmios e audiência global. Cancelada após duas temporadas, não alcançou nada disso e gerou um prejuízo de 200 milhões de dólares.
Fato é que, naquela ocasião, a Netflix tropeçou no próprio ego. Marco Polo surgiu para narrar as aventuras do homônimo desbravador italiano do século 13, que servia como uma espécie de representante comercial do Império Chinês, cumprindo ordens do imperador Kublai Khan (Benedict Wong); o ator Lorenzo Richelmy ficou com o papel do explorador.
Há dez anos, a plataforma do tudum estava em plena expansão de seu catálogo de séries originais. Já tinha duas grandes atrações, House of Cards e Orange Is the New Black, ambas indicadas às principais categorias do Emmy (melhor drama e melhor comédia, respectivamente).
Mas a Netflix queria mais. Game of Thrones ainda não havia ganho seu primeiro Oscar da TV de melhor drama (veio em 2015), mas já era a principal série do mundo, presente na cultura pop e com ibope gigantesco ao redor do planeta.
A intenção era fazer algo igualmente grandioso, por isso o investimento foi sem igual, até então. Marco Polo quase não usou estúdios, com a maioria das cenas gravadas em locações (Itália, Eslováquia, Hungria, Malásia e Cazaquistão). Muito dinheiro foi gasto em figurino, para vestir o elenco numeroso.
Ou seja, a Netflix queria fazer uma série épica para abalar as estruturas do mercado televisivo, contando com atores de várias nacionalidades. Mas falhou.
Praticamente tudo não funcionou. O ponto fraco foi um elenco canastrão, quase inacreditável de tão destoante. Fora o uso de registros e dados históricos não confiáveis. A única coisa boa que se salvou de Marco Polo foi a vinheta de abertura, que tem espaço entre as mais belas da plataforma.
Marco Polo, para sempre, vai ficar marcada como o primeiro grande fracasso da Netflix. •
João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br