
Vem da África do Sul o mais novo hit da Netflix. Lançado na última quinta-feira (31) e de cara cravando um lugar entre as cinco séries mais vistas na plataforma, a série Marcada (seis episódios) chama a atenção por discutir a moral da fé cristã em situações extremas.
Para salvar a filha, uma motorista de carro-forte se envolve em um assalto, atuando como informante. Mas, ao ser traída, ela se torna mais perigosa que todos os seus novos inimigos.
É mais uma série recente que coloca uma personagem feminina no mundo do crime após apresentá-la como uma pessoa comum. A estrutura é parecida com o drama criminal A Faxineira (2022-2025), disponível na HBO Max.
No centro da história está Babalwa Godongwana (Lerato Mvelase), a tal motorista que demonstra ter muita fé, uma mulher religiosa que frequenta a igreja todos os domingos ao lado do marido. Mas essa crença é abalada quando a saúde de sua filha adolescente, Palesa (Ama Qamata), se agrava.
A menina fica em casa a maior parte do tempo, tentando se recuperar de um diagnóstico de câncer. Após ter uma convulsão grave, Babalwa descobre que a cirurgia de que ela precisa só pode ser feita em um hospital particular e custa 1,2 milhão de rands (370 mil reais).
Ela tenta obter ajuda da igreja na qual congrega, sem sucesso. Desesperada, ela recorre a Baba G (Jerry Mofokeng), um notório chefão do crime que conhece Babalwa desde sempre e tentou recrutá-la para ser sua informante na empresa de carro-forte na qual trabalha.
Enxergando não ter saída, a ex-policial finalmente concorda em ajudá-lo a roubar um caminhão que dirige, em troca dos 1,2 milhão de dólares necessários para a cirurgia de Palesa.
Então, aquela fé inabalável de Babalwa se transforma em culpa paralisante.
Marcada tem uma direção focada no realismo urbano de Joanesburgo, maior cidade da África do Sul, como cenário das fraturas sociais do páis: desigualdade, acesso insular à saúde, corrupção e violência.
O estilo visual é seco, áspero, quase documental, sem a glamourização comum de dramas de assalto. Essa opção estética reforça a sensação de amargura e urgência que invade a protagonista.
A narrativa de Marcada não se reduz a um crime planejado: é um estudo sobre fé, moralidade e sobrevivência. •

João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br