Única série arrasa-quarteirão da Netflix em 2023, O Agente Noturno foi feita em laboratório. Uma executiva da plataforma pegou toda a expertise obtida com sucessos anteriores e aplicou no drama de ação. Tudo na narrativa foi feito de forma cirúrgica, de revelações cruciais a suspense, passando pela montagem dos episódios.
A Netflix é dona de uma avalanche de dados dos assinantes, como o momento que desistem de um programa ou quando encaram maratonas de longas horas por causa do gancho que cada episódio apresenta (o efeito viciante). Dessa forma, é possível traçar estratégias baseando-se nesses hábitos.
Ou seja, a Netflix sabe que a audiência de um drama diminuiu assim que o protagonista tomou certa atitude que desagradou, por exemplo. A plataforma do tudum sabe também qual a estrutura de uma série que vicia e faz o espectador devorar um episódio após o outro.
Os bastidores de O Agente Noturno
Embora tivesse toda uma preparação por trás, O Agente Noturno estreou totalmente sem pretensão, em 23 de março de 2023. Ninguém falou da série antes da estreia, o elenco não é ancorado por famosos… Mas a trama pegou o público, que no boca a boca repassou a recomendação.
O primeiro recorde batido foi imediato. O drama de ação se tornou a terceira maior audiência da história da Netflix, para uma série estreante, dentro dos primeiros quatro dias de disponibilidade. Antes mesmo de completar uma semana no ar, veio a renovação para a segunda temporada.
E pensar que a Netflix quase rejeitou O Agente Noturno durante o processo de pitch (oferta da série) e desenvolvimento do projeto.
Especificamente, foi uma executiva da empresa que mudou o jogo. Com experiência em saber o que funciona ou não na plataforma, ela sugeriu mudanças decisivas na trama. O criador da atração, Shawn Ryan, aceitou os conselhos… e o drama virou hit mundial.
No top 10 de todos os tempos da Netflix, lista com os programas mais vistos de língua inglesa, O Agente Noturno ocupa a sexta posição: 803,20 milhões horas assistidas (ou 98,20 milhões de visualizações) em todo o mundo. São dados que consideram os primeiros 91 dias de disponibilidade da série na plataforma.
Passo a passo
Ryan começou a trabalhar em O Agente Noturno no final de 2020, quando concebeu a ideia de série depois de ler o livro homônimo escrito por Matthew Quirk (ainda não publicado no Brasil). Em fevereiro do ano seguinte, o roteiro do piloto ficou pronto, e o showrunner bateu de porta em porta em Hollywood na procura por interessados. Só dois lugares toparam seguir o papo: o grupo NBCUniversal (rede NBC e streaming Peacock) e a Netflix.
A NBCUniversal mostrou-se mais entusiasmada. Contou a favor de Ryan as boas conexões que nutriu dentro do conglomerado. A ideia ali era fazer um piloto (gravar o primeiro episódio) e pagar para ver. Poderia virar uma série completa ou não. E não havia certeza onde seria exibida, se na TV aberta americana (NBC) ou no streaming (Peacock), que não alcança o mundo inteiro.
Já na Netflix, a recepção não foi tão acalorada assim. Segundo o site Deadline, Ryan precisou mexer uns pauzinhos e usar de sua influência para conseguir uma reunião com Jinny Howe, a chefe do Departamento de Drama da Netflix, responsável por gerenciar séries aclamadas como Bridgerton, Inventando Anna, Maid, entre outras.
Ou seja, ela tem conhecimento de causa, o tal do know how. Jinny sabe como fazer uma série sair do papel para virar sensação entre os assinantes da Netflix. A executiva torceu o nariz por algumas questões do piloto, não necessariamente descartando-as. O toque dela foi colocar certas revelações mais para frente, como a história do Serviço Secreto, do terceiro episódio em diante, criando assim um mistério para fisgar o espectador.
Ryan tinha dois caminhos, então. No grupo NBCUniversal, a ideia original dele seria mantida. Contudo, não havia garantias de uma série completa, precisaria passar pelo piloto. Na Netflix, as alterações teriam de ser feitas, além de descartar um arco narrativo que seria gravado na Itália, com a certeza de uma temporada completa. Ryan optou pela gigante do streaming.
“Acredito que as mudanças sugeridas pela Netflix, no final das contas, fizeram tudo ficar melhor [do que a versão original]”, confessou Ryan, ao Deadline.
Em junho de 2021, quatro meses após o início das conversas com a Netflix, Ryan finalizou o esboço dos dez episódios. Em agosto, a Netflix deu oficialmente a luz verde ao projeto.
Siga o Diário de Séries no WhatsApp
Acompanhe o Diário de Séries no Google Notícias
João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br