
A série Madame Aema, que estreia na Netflix na sexta-feira (22), conta a história real sobre como foi feito o primeiro filme erótico da Coreia do Sul, lançado em 1982, após o governo afrouxar regras rígidas que impediam a livre criação artística da indústria de entretenimento local. O tal filme, cujo nome é o mesmo da série, foi um sucesso de bilheteria e é um marco do cinema coreano.
O longa Madame Aema surgiu em um contexto peculiar. Sob a ditadura de Chun Doo-hwan, o regime colocou em prática a chamada Política dos 3S: screen (tela), sports (esportes) e sex (sexo), flexibilizando o controle do entretenimento com o objetivo de distrair a população da cena política e suavizar tensões sociais.
Essa estratégia acabou abrindo caminho para a proliferação de produções eróticas, ainda que submetidas a cortes severos e rígida censura.
A série Madame Aema segue a trajetória de Hee-ran (Lee Ha-nee), estrela consagrada na Coreia, e da novata Joo-ae (Bang Hyo-rin). Unidas pela experiência de dar vida ao polêmico filme, as duas personagens enfrentam, sob diferentes perspectivas, os dilemas de uma época marcada por autoritarismo e contradições.
O diretor Lee Hae-young, em coletiva realizada em Seul para falar sobre a série, explicou que buscou reinterpretar aquele período sob o olhar contemporâneo. “Havia incentivo à produção de obras eróticas, mas nenhuma liberdade criativa plena. Revisitar essa ironia em 2025 me pareceu uma forma de dar novo sentido à história”, afirmou.
Mais do que recuperar o impacto de Madame Aema, o drama procura iluminar as tensões culturais e políticas do período, além de ressaltar a solidariedade feminina que emerge em meio às pressões da indústria.
Na sociedade coreana, o impacto do filme foi tão grande que “viver como Aema” passou a significar enfrentamento ao preconceito, incompreensão e desafiar padrões conservadores de vida.
Ao recriar a efervescente Chungmuro, centro da indústria cinematográfica coreana nos anos 1980, o diretor buscou rigor histórico sem se deixar aprisionar por ele. “Quanto mais reluzente era a superfície, mais evidente se tornava a violência daquela época”, observou.
Apesar da ambientação no passado, Lee acredita que a série dialoga com o presente: “Certos males sociais permanecem, mas hoje há um movimento de reconhecimento e enfrentamento dessas feridas. Isso aponta para uma visão esperançosa”. •

João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br