Cumprindo prisão perpétua, Erik Menendez deu um jeito de se posicionar sobre a série Monstros – Irmãos Menendez: Assassinos dos Pais, da Netflix. Ele classificou a produção assinada pelo showrunner Ryan Murphy como uma “representação desonesta” dos fatos, sobre como Erik e seu irmão Lyle mataram os próprios pais.
Isso apesar de o roteiro, de certa forma, ser simpático ao ponto de vista dos irmãos, enfatizando o abuso que sofreram do pai em conjunto com a omissão da mãe. A opinião de Erik sobre o drama true crime foi publicada nas redes sociais de sua mulher, Tammi Menendez.
No comunicado, Erik enfatiza que Ryan Murphy montou um enredo motivado por má intenção: “É com o coração pesado que digo que Ryan Murphy não pode ter sido tão ingênuo e impreciso sobre os fatos de nossas vidas a ponto de fazer isso sem má intenção.”
Logo, ele acredita que tudo foi armado de propósito, “criando uma caricatura de Lyle enraizada em mentiras horríveis e descaradas.”
“É triste para mim saber que essa representação desonesta da Netflix sobre as tragédias que cercam nosso crime fez com que as verdades dolorosas dessem vários passos para trás”, continua. “Murphy moldou sua narrativa horrível por meio de representações vis e terríveis de Lyle e de mim, além de calúnias.”
Erik fez questão de destacar que a série, pela sua perspectiva, dá voz aos argumentos da promotoria contra ele e o irmão, calcados na questão de que o homem que sofre abuso sexual vivencia o trauma do estupro diferente da mulher.
“Como é desmoralizante saber que um homem [Murphy] tenha o poder de minar décadas de progresso sobre traumas vividos por crianças e adolescentes. A violência nunca é uma resposta, nunca é uma solução e é sempre trágica. Como tal, espero que nunca seja esquecido que a violência contra uma criança cria uma centena de cenas de crime horrendas e silenciosas, sombreadas por trás de glitter e glamour e raramente expostas até que a tragédia alcance todos os envolvidos.”
A segunda temporada de Monstros, lançada na última quinta-feira (19), chegou em um momento no qual Erik e Lyle procuram, mais uma vez, conseguir um habeas corpus, instrumento jurídico destinado a proteger o direito de liberdade de locomoção, que pode ser ameaçado ou violado de maneira ilegal, ou arbitrária.
Uma carta surgiu escrita por Erik, então com 17 anos, para o primo Andy. Nela, Erik fala dos abusos sofridos dentro de casa, físicos e emocionais, praticados pelo pai e com o consentimento da mãe. Essa é a peça de evidência que a defesa acredita ser possível usar num tribunal para libertar os irmãos, rotulando o crime que cometeram como legítima defesa, argumento que foi utilizado várias vezes em julgamentos e apelações, mas sempre rechaçado por jurados e juízes. •
João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br