O diretor da minissérie Império da Dor (Netflix), Peter Berg, é o responsável pela ideia cortante de mostrar, a cada começo de episódio, o depoimento real de uma pessoa que perdeu um familiar por causa do remédio OxyContin. Na verdade, trata-se de estratégia para se adequar a uma ordem vinda do departamento jurídico da gigante do streaming, driblando a burocracia enquanto ataca a Purdue Pharma, a fabricante da droga viciante e maldita.
Em entrevista ao site The Hollywood Reporter, Berg detalhou como foram os bastidores dessa sacada de impacto bastante forte que mexe com a emoção do espectador.
“O jurídico [da Netflix] nos alertou, bem quando estávamos para finalizar a série, de que precisaríamos colocar um aviso padrão no começo de cada episódio”, relembrou. “Tipo: ‘O que você está prestes a ver é baseado em fatos. Alguns fatos foram mudados …’.”
Peter Berg sabia que precisava obedecer a ordem, mas queria fugir do padrão. “Essa ideia básica não me caiu bem”, confessou. “Achei que iríamos deixar os Sacklers [dono da empresa farmacêutica] e a Purdue Pharma saírem ilesos com um aviso tão simples assim.”
Daí, ele foi conversar com o jurídico da Netflix (que fez muitas tabelinhas com o diretor e time de produção de Império da Dor, tudo para evitar dores de cabeça). “Eu sugeri que poderíamos tentar encontrar famílias cujos filhos morreram de OxyContin. No caso, essas pessoas iriam ler o aviso”, comentou.
O truque viria na sequência: “Logo após ler a nota, a pessoa diria: “Bem, o que não é inventado, o que é real, é que meu filho de 20 anos ou minha filha de 28 anos morreu de OxyContin”. Os advogados ouviram a sugestão, pararam para analisar as possíveis consequências e deram o sinal verde.
Berg ficou impressionado com a procura das famílias interessadas em participar desse quadro. “Fizemos um pedido apenas na região de Los Angeles, aos pais que estivessem dispostos a contar suas histórias. E, nas primeiras dez horas, ouvimos cerca de 80 famílias, só da área de Los Angeles, que perderam filhos por causa do OxyContin e queriam fazer parte dessa cena de abertura”, informou o diretor.
Este é um exemplo de depoimento real mostrado em Império da Dor, retirado do primeiro episódio:
“Este programa é baseado em acontecimentos reais, mas alguns personagens, nomes, incidentes, locais e diálogos foram ficcionalizados para fins dramáticos… O que não é ficção é que meu filho, aos 15 anos, recebeu uma receita para OxyContin. Ele viveu anos e anos de vício. E, aos 32 anos, ele morreu, sozinho, no frio, em um estacionamento de posto de gasolina. Sentimos falta dele.”
A história de Império da Dor
Lançamento recente da Netflix, a minissérie Império da Dor conta a história real sobre a epidemia dos opioides nos Estados Unidos, crise de saúde pública que produziu milhões de viciados e culminou em inúmeras mortes. A base da trama é a criação do OxyContin, remédio viciante produzido pela farmacêutica Purdue Pharma.
No centro de tudo está o tal remédio. A droga, um analgésico poderoso, foi comercializada com aval dos órgãos reguladores. A venda se baseava nas dores que todos nós sofremos pelo corpo, alguns sentindo mais do que outros. E nesse alicerce foi erguido o império da Purdue, sem qualquer empatia.
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João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br