A nova série nacional do Globoplay, O Jogo que Mudou a História, adapta acontecimentos reais sobre como surgiram as maiores facções criminosas do Rio de Janeiro. Uma delas, a Comando Vermelho, nasceu justamente no presídio de Ilha Grande, em 1979, após uma grande rebelião dos presos provocar mudanças na gestão da cadeia e alterar o modus operandi dos encarcerados.
Esse fato é retratado no drama. No caso, surge a facção Falange Vermelha, referência a um dos primeiros nomes do CV. A produção aproveitou as ruínas da penitenciária, demolida em 1994, para gravar algumas cenas no local real. Por só existir a fachada, foi necessário um trabalho de reconstrução em 3D, com complementos de cenários na parte interna.
Outros momentos de Ilha Grande na ficção foram feitos em Bangu 1 e no Instituto de Perícia Heitor Carrilho – Frei Caneca.
O que aconteceu com o presídio de Ilha Grande?
Localizada no litoral do Estado do Rio de Janeiro, a notória Ilha Grande passou a ser usada como confinamento de foras da lei no século 19, no fim da era do Brasil Imperial. Antes disso, era um ponto de refúgio para piratas e contrabandistas.
Em 1884, foi erguido um hospital na ilha para abrigar viajantes doentes, com cólera ou febre tifoide, vindos da Europa ou África. Num outro ponto, dez anos depois, surgiu a chamada Colônia Correcional de Dois Rios visando confinar criminosos reincidentes e presos condenados por crimes comuns.
Esse foi o início formal da utilização da Ilha Grande como local de encarceramento. O governo da época buscava não apenas punir, mas também corrigir e reintegrar os detentos através do trabalho agrícola e outras atividades laborais.
Até 1963, hospital e colônia passaram por diversas alterações de funções, abrindo, fechando ou se tornando uma coisa só. Isso foi resolvido de vez quando o governador Carlos Lacerda estabeleceu a Penitenciária Cândido Mendes (depois Instituto Penal Cândido Mendes) na antiga Dois Rios. O prédio seguiu funcionando até 1994.
Durante o século 20, o presídio se tornou famoso por abrigar presos políticos e guerrilheiros, especialmente durante a ditadura militar no Brasil (1964-1985). Muitos opositores do regime militar, incluindo intelectuais, artistas e estudantes, foram enviados para Ilha Grande.
Entre os presos políticos mais famosos estavam Graciliano Ramos, autor de Memórias do Cárcere (1953), em que narrou sua experiência de 18 dias atrás das grades, o líder comunista Gregório Bezerra e o jornalista Fernando Gabeira.
Por estar a mais de 100 quilômetros da capital do Rio de Janeiro, a ilha era o local ideal para isolar pessoas. E infratores de toda a natureza eram enviados para lá, como assaltantes de banco, estupradores e assassinos. Fugir era praticamente impossível, só de barco ou a nado.
O presídio também ficou conhecido pela extrema violência e pelas péssimas condições de vida enfrentadas pelos detentos. A superlotação, a falta de higiene e a brutalidade dos guardas eram comuns, tornando o local um verdadeiro pesadelo para seus ocupantes. Por isso, a cadeia foi batizada de Caldeirão do Inferno.
Na virada dos anos 1970 para os anos 1980, o cárcere de Ilha Grande foi o estopim da criação do Comando Vermelho, como retrata a série O Jogo que Mudou a História. Logo em seguida, a prisão perdeu sua função com a abertura gradual do regime militar e as mudanças no sistema penitenciário brasileiro. Em 1994, após diversas tentativas de fuga e rebeliões, o presídio foi finalmente desativado pelo governo estadual.
O desligamento foi um marco importante para a Ilha Grande, que passou por um processo de revitalização e redescoberta de seu potencial turístico. Hoje, a ilha é um destino popular para turistas do mundo todo, conhecida por suas praias paradisíacas, trilhas ecológicas e biodiversidade única. As ruínas do antigo presídio ainda podem ser visitadas, servindo como um lembrete histórico do passado sombrio da ilha e como um monumento à resistência e à luta pelos direitos humanos.
João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br
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