Herói da DC chamado também de Capitão Marvel, Shazam está de volta aos holofotes com mais um filme para arrasar o quarteirão (Fúria dos Deuses), engrossando a lista interminável de longas baseados em heróis das histórias em quadrinhos. Há 49 anos, o personagem tinha outra missão, a de dar lição de moral para a criançada em uma série infantil que foi sucesso, apesar de efeitos especiais toscos (à la Chapolin Colorado) e trama brega.
Lançada em setembro de 1974, a série Shazam! foi atração da rede CBS no bloco de programas infantis exibidos nas manhãs de sábado. Foram produzidas três temporadas, totalizando 28 episódios. No Brasil, chegou na Globo em 1975, com transmissão à tarde, por volta das 17h30. Também fez parte da programação do SBT, isso já nos anos 1980.
A premissa de Shazam! era vaga porque, basicamente, não tinha uma. A trama simplesmente acompanhava os passos do adolescente Billy Batson (Michael Gray), que se transformava em um super-herói ao dizer a palavra “shazam”. Ele tinha um guardião, chamado de Mentor (Les Tremayne), com quem cruzava os Estados Unidos em um motorhome procurando livrar pessoas de problemas.
Em nenhum momento a série explicou a conexão de Billy com o tal Mentor, não se falava dos pais do garoto, muito menos como exatamente ele conseguiu os poderes. O máximo de contexto era dado na vinheta de abertura (veja abaixo), mostrando que Billy, de alguma forma, possuía ligação com seis figuras mitológicas: Salomão, Hércules, Atlas, Zeus, Aquiles e Mercúrio (a palavra shazam é a soma das respectivas primeiras letras desses seres).
Os episódios não mostravam muita ação. Ou seja, as aparições do herói Shazam! eram pequenas, duravam poucos minutos. Isso pelo fato de não se ter em pleno anos 1970 a tecnologia e dinheiro para dispensar em efeitos especiais. Literalmente, o herói aparecia para salvar o dia.
E não era nada de espetacular. As cenas com o herói Shazam eram bem simples, como resgatar uma garota de um balão desgovernado, impedir a decolagem de um avião, salvar alguém de um cavalo doido, frear um carro o segurando pela traseira…
Os efeitos especiais toscos dão até um charme para a série, de tão risíveis que são. Nessa cena do carro, por exemplo, percebe-se claramente que o veículo está andando devagar, quase parando, e que a corrida do herói está acelerada no vídeo, como quando alguém aumenta em várias vezes a velocidade de reprodução das imagens.
O marco da lição de moral
Após salvar o dia, o Capitão Marvel dava uma lição de moral. Simplesmente todos os episódios vinham com um recado especial no final, com o herói olhando direto para a câmera enquanto passa a mensagem. O ensinamento sempre tinha alguma relação com o que foi mostrado no respectivo capítulo.
“Hoje, você viu alguém tentando resolver um problema agindo fora da lei, ao invés de usar meios legais. É importante lembrar que as leis existem para nos ajudar. E quando isso não acontece, elas podem ser alteradas, tudo dentro da legalidade”, ensinou um episódio.
Todo tipo de tema ganhou uma lição de moral:
– Coragem: “Fugir dos problemas não é a resposta”
– Evasão escolar: “Se você está pensando em desistir de estudar, você apenas está prejudicando a si mesmo”
– Obediência: “Quando pais estabelecem regras, na verdade é uma forma deles demonstrarem amor e carinho”
– Respeito: “não é a raça, religião ou aparência que é o mais importante de uma pessoa. O mais importante de uma pessoa é o caráter
E outros tantos assuntos foram discutidos na série em forma de entretenimento. Até hoje, esse aspecto, por mais brega que seja, é lembrado com carinho por quem acompanhou a trama na época. Afinal, de alguma forma ou de outra, o didatismo servia para ensinar a uma criança aspectos importantes da vida em sociedade, fora a chance de ter um melhor entendimento de si mesmo e da vida como um todo.
João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br
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