ROBÔ NO COMANDO

Greve em Hollywood: estúdios querem que roteiristas sejam ‘estagiários’ da IA

O que está em jogo é quem vai ser o dono da propriedade intelectual
DIVULGAÇÃO/SHUTTERSTOCK
Roteiristas e computador precisam se entender em meio à greve em Hollywood
Roteiristas e computador precisam se entender em meio à greve em Hollywood

A greve dos roteiristas está prestes a completar quatro meses. Basicamente, o que impede o fim da paralisação é o acerto sobre o uso da inteligência artificial em roteiros. De acordo com a mais recente rodada de conversas entre a categoria e os patrões, os estúdios querem que os roteiristas aprimorem o trabalho criado pelas ferramentas de inteligência artificial (tipo ChatGPT), como se os humanos fossem estagiários dos robôs. Tudo por causa de direitos autorais.

De acordo com atualização recente de lei americana, não existe direito autoral para qualquer criação de inteligência artificial. O que vale? Um humano precisa reescrever o roteiro produzido pelo computador, por exemplo.

Os nove maiores estúdios de Hollywood, representados pela entidade patronal AMPTP, introduziram essa proposta na negociação com o sindicato dos roteiristas (WGA) para levar uma vantagem considerável. Nesse cenário hipotético, do humano reescrevendo o roteiro criado pela IA, o determinado estúdio poderia lucrar muito mais como dono da propriedade intelectual

Os roteiristas veem grande desvantagem nisso. De forma ideal, os ChatGPts da vida deveriam ser ferramentas do autor, não o contrário. Se desenha uma situação bizarra da pessoa tendo de trabalhar para a máquina, mexendo em coisas que o robô não tem (e provavelmente nunca terá) capacidade de fazer, coisas que só o cérebro humano é capaz de produzir e criar.

Como dá para perceber, os estúdios hollywoodianos precisam dos roteiristas, o que pode favorecer a classe durante as negociações. Isso porque um roteiro exclusivamente feito pela IA entra no domínio público, restringindo a exploração comercial e exclusividade.

Acontece que a AMPTP quer restringir a fatia dos roteiristas nos direitos de propriedade intelectual. Nesse caso aqui explorado, o profissional que trabalhou em um roteiro produzido pela IA seria compensado como roteirista padrão ou freelancer/terceirizado contratado por obra, não como criador.

A questão da interferência da inteligência artificial em Hollywood é atual e complexa. Não parece algo a ser resolvido em poucas rodadas de negociação, o que significa extensão da greve e mais prejuízos aos trabalhadores da indústria do entretenimento. 

Por isso, há roteiristas que argumentam deixar essa discussão sobre a IA em separado das outras demandas dos grevistas. Assim, a paralisação seria mais fácil de acabar. E a regulação do uso da IA continuaria à parte, até chegar a um denominador comum; mas com Hollywood de volta à ativa.


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