Importante estudo feito com adolescentes e jovens americanos, organizado pela Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), aponta que essa geração não quer ver sexo na TV e no cinema, principalmente quando é usado como truque para causar burburinho. Eles desejam acompanhar histórias mais pudicas, como a boa e velha amizade, pura e simples, ou relações platônicas (quando não há sexo ou contato íntimo).
A UCLA tem um centro de estudos, ligado ao departamento de psicologia, cujo objetivo é analisar todo tipo de comportamento de jovens para ajudar criadores de conteúdo a retratar na tela o que essa geração deseja assistir. Foram ouvidos 1.500 adolescentes e jovens adultos de 10 a 24 anos; cada idade foi representada por cem participantes.
O levantamento, batizado de Teens and Screes (Adolescentes e as Telas, em tradução direta), mostra que a maioria dos entrevistados (51,5%), entre 13 e 24 anos, querem mais histórias sobre amizades e relações platônicas; adolescentes de 10 a 12 anos não responderam questões sobre relacionamentos.
Cerca de 44% afirmaram que a mídia faz uso exagerado do romance tipo namoro, e 47,5% disseram que o sexo não é necessário na maioria dos filmes e séries.
Essa pesquisa da UCLA chega em um momento no qual outros tipos de estudos revelam que a Geração Z está fazendo menos sexo do que a geração anterior, apesar do acesso facilitado, literalmente na palma da mão, a qualquer tipo de conteúdo adulto, erótico ou explicitamente sexual.
Pegando pelo ponto de vista da TV, esses dados vão ajudar Hollywood a se endireitar. Pois a maioria das recentes séries voltadas aos jovens são marcadas por exploração da sensualidade e do sexo (vide Euphoria, The Idol…).
Isso talvez explica o sucesso de muitos k-dramas justamente entre jovens e adolescentes. Pois as produções sul-coreanas, que dominam streamings como Netflix, são pautadas por um romance mais tradicional, inocente, com muito flerte e jogo da conquista, quase nunca cruzando a linha da nudez ou do sexo gratuito.
O estudo da UCLA enriquece o debate ao trazer algumas falas de adolescentes e jovens. Um adolescente de 17 anos falou: “Toda vez que um personagem masculino e feminino estão juntos na tela, os estúdios sentem a necessidade de fazê-los se apaixonar. Eu não gosto disso. Há uma total falta de relações platônicas em Hollywood.”
Uma menina de 16 anos comentou: “Não curto o fato de que toda amizade entre meninos e meninas tenha que pender para o romance, em algum momento. Às vezes as pessoas podem simplesmente ser só amigas.”
Tem outra problemática em jogo, apontada por uma jovem de 23 anos: “O cara age como um idiota com a mulher… mas ela acaba se apaixonando por ele.”
Coautora do estudo e professora do departamento de psicologia da UCLA, Yalda T. Uhls resumiu os achados em entrevista para o site da Variety: “Embora seja verdade que adolescentes e jovens querem menos sexo na televisão e no cinema, o que o levantamento realmente diz é que eles querem mais e diferentes tipos de relações encenadas.”
“Sabemos que os jovens sofrem uma epidemia de solidão”, continuou a professora. “Embora alguns criadores de conteúdo usem o sexo e o romance como um atalho para a conexão entre os personagens, é importante para Hollywood reconhecer que os adolescentes querem histórias que reflitam todo o espectro de relacionamentos”.
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João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br