
Produção britânica que pegou o assinante da Netflix de jeito, o drama político Refém acertou ao apostar em reviravoltas novelescas ao desenrolar uma trama cheia de suspense e paranoia. Após o marido da primeira-ministra britânica ser sequestrado e a presidente da França começar a ser chantageada durante uma visita ao Reino Unido, as duas líderes precisam fazer escolhas impossíveis.
Curta, com somente cinco episódios, a minissérie não tira o pé do acelerador em nenhum instante, o que é algo positivo e propício para uma maratona, com o público emendando um capítulo após o outro. Revelações dignas de um dramalhão latino, como romance sórdido entre madrasta e enteado, apimentam a narrativa e mantêm o espectador vidrado.
Indicado ao Oscar de roteiro original por Ponte dos Espiões (2015, filme de Steven Spielberg), Matt Charman criou Refém e assinou todos os cinco episódios. Em entrevista à Netflix, ele deu sua explicação sobre o desfecho do drama político.
O final explicado de Refém
A premiê Abigail Dalton (Suranne Jones) enfrenta dias sombrios. A Inglaterra sofre com a escassez de medicamentos, sua popularidade despenca e alianças internacionais estremecem após comentários depreciativos contra a presidente francesa, Vivienne Toussaint (Julie Delpy), vazarem.
Para piorar, o marido, Alex (Ashley Thomas), médico humanitário, é sequestrado na Guiana Francesa por um grupo de mercenários. Esse é o ponto de partida de Refém, série que transforma o poder político em um jogo de vida ou morte.
Charman quis retratar uma primeira-ministra capaz de conquistar a empatia das pessoas, fugindo da imagem distante e fria comumente associada ao cargo. O enredo coloca Dalton diante de um dilema cruel: renunciar ao comando do país em troca da vida do marido.
Depois de muitas idas e vindas, o showrunner optou por um desfecho trágico e chocante. Sylvie (Isobel Akuwudike), filha de Dalton, é quem dá o tiro fatal que abate o militar Shagan (Martin McCann), que armou o sequestro do marido de Dalton em busca de vingança.
“Quis que, naquele instante, o público sentisse duas coisas ao mesmo tempo: o alívio pelo fim da ameaça e o peso devastador da pergunta ‘o que isso significa agora para essa família?’”, disse Charman.
“Você pode matar o monstro, mas isso não garante que tudo vai ficar bem. Há sempre danos colaterais, e aquilo que você mais queria proteger, a sua família, acaba ficando com uma fissura profunda.”
Em seguida, a narrativa avança no tempo. Dalton está de volta ao endereço 10 da Downing Street, prestes a fazer um pronunciamento. As rachaduras em sua família, ao menos por ora, parecem remendadas: Alex e Sylvie estão ao seu lado.
Antes de anunciar novas eleições gerais, a premiê busca forças diante do retrato de Vivienne Toussaint, em posição de destaque na residência oficial. A ex-presidente francesa morreu vítima de uma atentado à bomba. Ela deixou como legado uma lição de autenticidade que guia Abigail dali em diante.
“A morte de Vivienne paira sobre toda a série. Ela se torna quase uma espécie de farol para Abigail, no sentido de enfrentar o poder, manter-se firme, garantir que, mesmo quando aparentemente perde a força, isso não signifique desistir.”
“Dalton termina a série quase no mesmo ponto em que começou; mas agora com a consciência de quanto bem poderia fazer se tivesse a coragem de ser, de fato, quem é em Downing Street”, pontuou o criador. A primeira-ministra, inspirada pelas últimas palavras da colega francesa, assume um compromisso claro: abandonar máscaras e governar sendo fiel a si mesma.
“Ela usa as palavras de Vivienne para convocar a eleição, declarando que ‘esta sou eu, esta é a política que sou. Se gostarem, votem em mim. Se não, compreendo. Mas chega de fingimentos. Esta é a pessoa que quero ser’”. E isso vem diretamente da inspiração deixada por Vivienne, esclareceu Charman. •

João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br