
Quem é o verdadeiro monstro na série Monstro: A História de Ed Gein? A pergunta ecoa ao longo da produção, disponível na Netflix, criada por Ryan Murphy e Ian Brennan. A resposta parece incluir não apenas o notório assassino do interior de Wisconsin (EUA), mas também a sociedade que o cercou e até mesmo o público que consome histórias como a dele.
O fio condutor de cada temporada de Monstro é justamente investigar se os protagonistas nascem assassinos ou são moldados pelo ambiente. Em entrevista à Netflix, Murphy diz que Ed Gein é um pouco dos dois. Já Charlie Hunnam, ator que vive o famoso serial killer na terceira temporada da série, ecoa a indagação central da trama:
“O monstro era esse rapaz maltratado desde a infância, isolado e com transtornos nunca diagnosticados? Ou a multidão que transformou sua vida em espetáculo, obscurecendo ainda mais a psique coletiva americana e mundial?”
[Atenção: spoilers a seguir]
Final explicado de Monstro: A História de Ed Gein
O último episódio do drama true crime apresenta uma guinada inesperada nas alucinações do protagonista. Em vez de cenas perturbadoras e sangrentas, as visões mostram o assassino ajudando agentes do FBI a capturar Ted Bundy (John T. O’Brien).
Os delírios, encarados com naturalidade pelas enfermeiras do hospital, acompanham os últimos dias de Ed, debilitado pelo câncer. É nesse contexto que ele se encontra mais uma vez com Adeline (Suzanna Son). Diferentemente de antes, quando a incentivava a abraçar sua escuridão, ele pede que ela não siga por esse caminho, uma ruptura drástica em relação à dinâmica estabelecida entre os dois.
Segundo Ryan Murphy, o desfecho chegou a ser imaginado de outra forma. A ideia inicial previa uma aparição de Laurie Metcalf como a mãe de Ed em uma visita ao instituto. A proposta foi abandonada em favor de uma atmosfera para destacar não apenas o legado de Ed, mas também a influência sombria que exerceu sobre outros criminosos notórios, como Richard Speck e o próprio Bundy.
À beira da morte, Ed encara uma visão perturbadora: uma procissão de assassinos em série que o reverenciam por tê-los inspirado. Em vez de rejeitar o peso desse reconhecimento, ele o aceita com satisfação, orgulhoso do legado deixado.
Logo depois, em uma imaginação derradeira, atravessa um corredor de enfermeiras dançantes e sobe uma escadaria para ser recebido por Augusta, sua mãe. “Você realmente fez algo de si mesmo”, ela afirma, resumindo a essência paradoxal da série: a trajetória de um homem monstruoso, ao mesmo tempo grotesco e transformador da cultura popular.
A cena final reforça essa herança. Um grupo de adolescentes tenta roubar a lápide de Ed, em alusão a um caso real. De longe, Ed observa com um sorriso contido, até que a tela vai escurecendo enquanto ele dança com uma serra elétrica, referência a um de vários filmes inspirados em sua jornada sangrenta.
Antes dos créditos, uma última lembrança surge: Ed, ainda jovem, sentado ao lado da personagem de Laurie. “Só uma mãe poderia amar você”, ela diz. Uma profecia cruel que ecoaria em toda a sua vida e encontraria pleno significado no desfecho sombrio da série. •

João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br