
O último episódio de And Just Like That…, disponível desde quinta-feira (14) na HBO Max, é um exemplo claro de uma obra inacabada. Continuação de Sex and the City, a comédia assegura, com méritos, um lugar na lista das séries com os piores finais de todos os tempos. Constrangimento define como foi o desfecho da trama.
A conclusão ficou longe de qualquer despedida memorável. O que deveria ser um momento de emoção ou catarse se transformou em uma cena grotesca e podre, quando um vaso sanitário entupido transbordou e roubou a atenção do clímax narrativo (nada mais simbólico).
Fora a introdução desnecessária de personagens representando caricaturas de jovens da Geração Z e a perda de tempo com passagens supérfluas, como um desfile de vestidos de noiva.
O episódio final até tentou refletir sobre a solidão de Carrie (Sarah Jessica Parker) após décadas de relações amorosas, culminando com ela dançando sozinha em sua ampla e impessoal casa em Manhattan, Nova York.
And Just Like That… empenhou-se em fazer com que o adeus soasse contemplativo, com Carrie aceitando a possibilidade de viver sem um par romântico e celebrando o fato de estar só.
Nesse momento, naquele lar gigante e vazio, ela escreveu como epílogo de seu livro: “A mulher percebeu que não estava sozinha: estava por conta própria.”
Contudo, cercada pelo luxo herdado de um marido milionário, a protagonista pareceu desconectada da realidade. Assim, a última cena, em vez de emocionar, apenas corroborou para um fato: a série desperdiçou a chance de se reinventar.
Em outras frentes, houve vários tropeços no encerramento da narrativa:
- Miranda (Cynthia Nixon), despediu-se prestes a ganhar o primeiro neto;
- Seema (Sarita Choudhury) fechou sua participação com uma frase trivial sobre torta sem glúten;
- Lisa Todd Wexley (Nicole Ari Parker), após toda a expectativa de uma possível participação de Michelle Obama, terminou apenas imaginando como seria ter a ex-primeira-dama dos EUA narrando o seu documentário.
Charlotte (Kristin Davis), por sua vez, teve um final mais justo, finalmente aceitando e respeitando a identidade de gênero de Rock (Alexa Swinton), caçula da família, e superou o impacto do câncer de próstata na vida sexual do marido.
And Just Like That… chegou ao ponto-final descaracterizada. Não teve uma cena que reunisse o trio original (Carrie, Charlotte e Miranda) em um restaurante chique, por exemplo. A despedida pareceu modesta para uma história que atravessou quase três décadas. •

João da Paz é editor-chefe do site Diário de Séries. Jornalista pós-graduado e showrunner, trabalha na cobertura jornalística especializada em séries desde 2013. Clique aqui e leia todos os textos de João da Paz – email: contato@diariodeseries.com.br